Folha de S. Paulo
Evento na Globo coroa eleição de rejeições
que marca a disputa que chega a seu fim
Coroando uma corrida presidencial marcada
por uma
disputa entre rejeições, o embate final
do segundo turno desenhou-se como um debate entre monólogos.
O objetivo primário de qualquer encontro do
tipo é evitar um escorregão fatal, e nisso tanto o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) quanto o atual,
Jair Bolsonaro (PL), foram bem-sucedidos.
Já o alvo secundário, a conquista de
indecisos (2% segundo a pesquisa
mais recente do Datafolha, número que pode mudar a equação final), parece
ter ficado bastante longe. Os candidatos falaram para si mesmos e com uma
estridência colegial, trocando de temas incômodos para outros assuntos
Bolsonaro passou a campanha na casa dos 50% de rejeição, onde está segundo o Datafolha, e Lula subiu para os 45% atuais. Ao longo dos três primeiros blocos, o que se viu foram acusações alternadas, orientadas pelo que dizem pesquisas qualitativas a suas coordenações de campanha.
Assim, Lula é mentiroso e ladrão, só para
rebater chamando Bolsonaro de mentiroso, ladrão "y otras cositas
más". Houve alguma tentativa de convergência do meio para a frente do
evento, com ao menos os xingamentos tentando obedecer a racionalidade do tema
exposto.
Nada muito sério, como seria esperado. Aí
sobram os momentos em que Lula se perde tentando falar de corrupção, uma
constante que ajudou a piorar sua rejeição desde o primeiro turno. O petista
claramente segue fora de forma para debates —até o pedágio à esquerda da
reabilitação de Dilma como inocente indefensável da crise de 2015-16 o
petista pagou.
Já Bolsonaro fez das suas. Puxou para si o
tema de defesa da Constituição, logo ele, dono de notório histórico de
manifestações golpistas —mesmo nesta quinta (28), Bolsonaro encaixou
uma crítica ao Tribunal
Superior Eleitoral enquanto falava de ameaças que diz sofrer.
A
discussão dos ditos valores, um campo bolsonarista, emergiu no fim do
segundo bloco. Lula sacou uma pegadinha, recuperando um discurso de 1992 de
Bolsonaro no qual ele defendia o que o petista chamou de "pílula do
aborto" para controle de pobreza.
Assim como no debate anterior entre ambos
no segundo turno, Bolsonaro
voltou a errar ao associar a visita do rival Lula ao Complexo do Alemão com
um acordo com os donos do tráfico na região. "Eu não fui visitar
traficante não", disse o presidente.
Lula, previsivelmente, defendeu seu
encontro com moradores pobres no Rio. Lula ainda aproveitou e trouxe Roberto
Jefferson, que havia surgido lateralmente no primeiro bloco, lembrando a
associação entre Bolsonaro com o ex-presidente do PTB, e
ligando o episódio em que o ex-deputado atacou a PF com tiros e bombas
à política armamentista do presidente.
"Você tem um parceiro de roubalheira.
Esse é Roberto Jefferson", disse Bolsonaro sobre seu aliado que agora,
tornado um quase homicida, renega. O nível seguiu contíguo à sarjeta, ainda que
temas como canibalismo, pedofilia ou
implantação de comunismo não tenham surgido.
No formato, Bolsonaro melhorou aos poucos a
postura e parou de andar de um lado para o outro, amparando-se assim como Lula
ao púlpito, que serve de anteparo à agressividade do rival.
O destacamento dos candidatos da realidade
foi tanto que houve um momento em que o presidente aproveitou uns segundos
restantes para posar de pastor e falar de Deus, família e pátria, o velho
slogan do fascismo português. Com os 2% de indecisos e 5% de nulos ou branco,
que sempre pode mudar de lado, o debate não teve cheiro de definitivo para
ninguém.
Ao fim, um empate miserável para o público,
no qual ninguém se esborrachou. Sendo assim, ganhou Lula, em termos políticos
puros.
Um comentário:
Não vi o debate.
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