O Estado de S. Paulo
Foram apressados demais aqueles que
apostaram no fim iminente da globalização, quando a pandemia de covid-19
desorganizou e paralisou os canais de produção e distribuição ao redor do
mundo.
De fato, os navios foram retidos nos
portos, porque as tripulações tiveram de permanecer confinadas;
matérias-primas, produtos intermediários e mercadorias finais não chegaram
aonde tinham de chegar; viagens por terra, mar e ar tiveram de ser
interrompidas.
Com isso, ficou truncada uma instituição essencial da globalização econômica, o sistema just in time, que prevê o encaminhamento de chips e peças às linhas de produção dentro de um cronograma preciso, de modo a reduzir os custos com estocagem de produtos intermediários e de bens finais e a dispensar mais máquinas e equipamentos.
“A globalização atrapalha”, ou então, “a
globalização tem de ser desmontada”, afirmaram muitos. Governos e grandes
empresas tiveram de determinar a recomposição de estoques ou de garantir
abastecimento em outras fontes, ainda que a custos mais altos. Foi o principal
fator que puxou para cima a inflação global e obrigou os bancos centrais a
elevar os juros. Por conta disso, alguns governos rejeitaram o livre-comércio e
se voltaram para o protecionismo.
E, no entanto, tanto a pandemia foi global
como foi global a resposta sanitária dos governos a ela. Os procedimentos e as
vacinas para o combate à covid-19 foram universais. E, uma vez vencida a
pandemia, os antigos canais globais de produção e distribuição ao redor do
mundo voltaram a ser restabelecidos.
E há, agora, o que todos os dias mostram a
TV e os jornais. O Hemisfério Norte está entregue a ondas insuportáveis de
calor. Como adverte o New York Times, três continentes vêm ardendo a
temperaturas ambientes entre 40° C e 50° C – e tem ainda o sufoco produzido
pela sensação térmica adversa. Este é outro fenômeno global. Ele avisa que a crise
ambiental só pode ser combatida com ações globais.
Depois de ter permitido que a atmosfera se
tornasse a chaminé do mundo; de que as florestas fossem derrubadas a machado,
motosserra e fogo; e de que os rios e o mar fossem usados como ralo do mundo – não
sobra opção à humanidade a não ser assumir sentido de urgência, antecipar os
cronogramas de transição energética e derrubar as emissões de carbono.
As respostas não se limitam a isso. As
autoridades já começam a martelar que não basta que os produtos sejam
ambientalmente limpos. Passa a ser exigido que os processos de produção não
poluam o ambiente. Não basta que uma roupa seja biodegradável, mas que o
algodão que a fabricou não seja produzido com agrotóxicos ou com queima de
florestas e que toda a sua cadeia de produção também seja limpa e sustentável.
Cada vez mais o tema ganha prioridade nas
reuniões do G7, do G-20 e em outras conferências internacionais.
Mais do que antes, as respostas são de mais
globalização, e não menos.
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