sexta-feira, 21 de julho de 2023

Celso Ming - Mais globalização, e não menos

O Estado de S. Paulo

Foram apressados demais aqueles que apostaram no fim iminente da globalização, quando a pandemia de covid-19 desorganizou e paralisou os canais de produção e distribuição ao redor do mundo.

De fato, os navios foram retidos nos portos, porque as tripulações tiveram de permanecer confinadas; matérias-primas, produtos intermediários e mercadorias finais não chegaram aonde tinham de chegar; viagens por terra, mar e ar tiveram de ser interrompidas.

Com isso, ficou truncada uma instituição essencial da globalização econômica, o sistema just in time, que prevê o encaminhamento de chips e peças às linhas de produção dentro de um cronograma preciso, de modo a reduzir os custos com estocagem de produtos intermediários e de bens finais e a dispensar mais máquinas e equipamentos.

“A globalização atrapalha”, ou então, “a globalização tem de ser desmontada”, afirmaram muitos. Governos e grandes empresas tiveram de determinar a recomposição de estoques ou de garantir abastecimento em outras fontes, ainda que a custos mais altos. Foi o principal fator que puxou para cima a inflação global e obrigou os bancos centrais a elevar os juros. Por conta disso, alguns governos rejeitaram o livre-comércio e se voltaram para o protecionismo.

E, no entanto, tanto a pandemia foi global como foi global a resposta sanitária dos governos a ela. Os procedimentos e as vacinas para o combate à covid-19 foram universais. E, uma vez vencida a pandemia, os antigos canais globais de produção e distribuição ao redor do mundo voltaram a ser restabelecidos.

E há, agora, o que todos os dias mostram a TV e os jornais. O Hemisfério Norte está entregue a ondas insuportáveis de calor. Como adverte o New York Times, três continentes vêm ardendo a temperaturas ambientes entre 40° C e 50° C – e tem ainda o sufoco produzido pela sensação térmica adversa. Este é outro fenômeno global. Ele avisa que a crise ambiental só pode ser combatida com ações globais.

Depois de ter permitido que a atmosfera se tornasse a chaminé do mundo; de que as florestas fossem derrubadas a machado, motosserra e fogo; e de que os rios e o mar fossem usados como ralo do mundo – não sobra opção à humanidade a não ser assumir sentido de urgência, antecipar os cronogramas de transição energética e derrubar as emissões de carbono.

As respostas não se limitam a isso. As autoridades já começam a martelar que não basta que os produtos sejam ambientalmente limpos. Passa a ser exigido que os processos de produção não poluam o ambiente. Não basta que uma roupa seja biodegradável, mas que o algodão que a fabricou não seja produzido com agrotóxicos ou com queima de florestas e que toda a sua cadeia de produção também seja limpa e sustentável.

Cada vez mais o tema ganha prioridade nas reuniões do G7, do G-20 e em outras conferências internacionais.

Mais do que antes, as respostas são de mais globalização, e não menos.

 

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