Folha de S. Paulo
Operadores do presidente indicam que
reforma ministerial é impossível sem que aliados paguem a conta
Lula ainda
não definiu os endereços do centrão na Esplanada, mas o PT já prepara a
vizinhança para a chegada dos inquilinos. A presidente do partido desautorizou
protestos contra a substituição de ministros, e o líder do governo atribuiu
queixas da esquerda a "vozes do além que preferem a derrota e o
isolamento".
A blindagem oferecida por Lula à ministra da Saúde foi festejada pelo PT e seus aliados. O presidente indicou que pode proteger outras áreas que considera sensíveis ou estratégicas, mas o discurso de seus operadores políticos mostra que será impossível fazer uma reforma ministerial sem que a esquerda pague a conta.
Gleisi
Hoffmann resumiu a questão à matemática. "Gostemos ou não, não
fizemos a metade mais um dos membros do Congresso", disse ao jornal Valor
Econômico. Para ela, a negociação da reforma não dá a outros aliados o
"direito a fazer movimentos de permanência ou de protesto".
A presidente do PT participou da montagem
da Esplanada antes da posse e patrocinou
a ocupação de espaços pela esquerda. A sinalização de que será preciso
cortar na própria carne não é pouca coisa.
Já o deputado José Guimarães, que coordena
a articulação do governo na Câmara, sugeriu que a esquerda precisa abrir
mão de uma certa pureza ideológica e abraçar o centrão.
O líder do governo recorreu à física e
lembrou que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo
tempo. Ele disse à Folha que
não devem ser criados novos ministérios e que, com a chegada de PP e
Republicanos, "evidentemente alguém vai ter que perder". Como Lula
não quer briga com PSD, MDB e União Brasil, a conta tende a ficar com PSB, PC
do B e o próprio PT.
A diluição de linhas ideológicas nos
pleitos parlamentares e o inchaço do centrão fazem com que a esquerda consiga
eleger um presidente, mas não garanta sua sustentação no Congresso. Reduzir a
participação nos cargos de primeiro escalão é o preço para que Lula tenha mais
chances de governar com a plataforma que defendeu na campanha.
Um comentário:
Pois é.
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