O Estado de S. Paulo
Dia 2o, data da posse de Trump, também marca os 54 anos do desaparecimento de Rubens Paiva
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer
transformar o 8 de Janeiro numa data oficial para marcar a defesa da
democracia. Hoje, por exemplo, quando se completam dois anos dos ataques
golpistas, Lula participará de quatro atos em memória daquele dia de horror.
Nos bastidores, porém, comandantes das Forças Armadas, que estarão no Palácio
do Planalto, mostram desconforto com essas cerimônias e dizem ser necessário
“virar a página”.
Se dependesse do Exército, da Marinha, da
Aeronáutica e até de alguns integrantes do governo que só falam sobre esse
assunto sob reserva, o 8 de Janeiro ficaria agora apenas com a Justiça. A
Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general e
ex-ministro Braga Netto, hoje preso, e outras 38 pessoas por tentativa de
golpe.
Todos serão julgados e, provavelmente, condenados, mas tudo indica que, neste 2025, viveremos momentos de muito mais escândalos e novas prisões. Aguarda-se para os próximos meses, ainda, o término do inquérito das fake news.
O cabo de guerra vai continuar em 2026, ano
eleitoral, quando bolsonaristas prometem usar a bandeira do impeachment de
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para obter votos. E, se conseguirem
aumentar sua bancada no Senado, pôr em marcha o plano de defenestrar
magistrados.
Na prática, não está tudo pacificado nem há
conciliação à vista. O filme Ainda Estou Aqui, que deu o Globo de Ouro a
Fernanda Torres ao fazer um doloroso relato de como a ditadura mudou a vida da
família do exdeputado Rubens Paiva, revela a importância dessa memória.
O próximo dia 20, coincidentemente a data em
que Donald Trump toma posse para o 2.º mandato como presidente dos EUA, marca
também os 54 anos do desaparecimento do ex-deputado, arrancado de sua casa, no
Rio, por agentes da ditadura.
Em 2014, quando a Câmara inaugurou um busto
em homenagem a Paiva, o então deputado Bolsonaro cuspiu nele. “Rubens Paiva
teve o que mereceu. Comunista desgraçado, vagabundo!”, gritou. Políticos e
parentes de Paiva que ali estavam ficaram perplexos.
Autor do projeto daquela escultura, Paulo
Teixeira (PT), hoje ministro do Desenvolvimento Agrário, disse que o episódio
indica por que é preciso resgatar a defesa da democracia no 8 de Janeiro. “Se
normalizarmos os fatos, os autores da tentativa de golpe serão anistiados e
voltarão ao poder”, afirmou.
Nos primeiros dias úteis deste 2025, obras de arte destruídas no 8 de Janeiro subiram a rampa do Planalto, restauradas. Esperemos, agora, que a democracia – não só no Brasil, mas no mundo todo – sobreviva. Sem trincas nem remendos.
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