O Estado de S. Paulo
Se o golpe de Bolsonaro tivesse dado certo, o Brasil teria ganhado o seu primeiro Oscar?
Ainda Estou Aqui foi o filme certo, na hora
certa. O primeiro Oscar não poderia ter vindo num momento melhor para o Brasil,
os brasileiros, a nossa história e até para o governo Lula, que tem um refresco
e pode comemorar, enfim, um prêmio e a felicidade popular. E tudo isso no meio
do carnaval, uma das festas mais eletrizantes e inclusivas do mundo.
Só faltaram a legítima estatueta para Fernanda Torres, que brilhou ao viver não uma, mas as várias Eunices Paivas durante Ainda Estou Aqui, e uma homenagem a Cacá Diegues. No mais, pareceu tudo perfeito, a começar de Walter Salles, um diretor perfeito, que fez um filme sobre ditadura sem chocar com choques elétricos, cadeiras do dragão, afogamentos e técnicas de tortura tornadas rotineiras nos anos de chumbo.
Salles escolheu o livro certo, de Marcelo
Rubens Paiva, filho de Rubens Paiva e Eunice, montou equipe e ambientação
exemplares e, sobretudo, chamou para as câmeras e holofotes Selton Mello e
Fernanda. E foi perfeitamente adequado ao agradecer o prêmio em nome do Brasil,
com uma pitada de política, reverência a Eunice Paiva e às duas Fernandas,
Torres e Montenegro. Ponto. Nada a excluir, nada a acrescentar.
Mais de cinco milhões de espectadores já
foram ao cinema ver, se emocionar e aplaudir Ainda Estou Aqui, que ganha prêmio
no ano em que o Supremo vai julgar a tentativa de golpe militar, 60 anos após o
golpe de 1964, que matou Rubens Paiva e durante duas décadas reprimiu o Brasil,
a Constituição, as instituições, as liberdades, os direitos, as famílias, as
vidas.
O faturamento do melhor filme estrangeiro do
Oscar também chegou a R$ 150 milhões no Brasil, num baita reforço a uma
indústria importante de um setor fundamental, após um governo que não apenas
desprezava como perseguia a Cultura, a ponto de nomear para um setor tão
estratégico Roberto Alvim, que havia atacado Fernanda Montenegro como “sórdida”
e “mentirosa”.
Alvim acabou demitido por um vídeo
institucional de evidente inspiração nazista, na forma e no conteúdo. Nem
Bolsonaro suportou a pressão para se livrar dele, mas trocou seis por meia
dúzia, ao nomear Mário Frias, que, em vez de partituras, telas, pincéis,
livros, roteiros, fazia-se fotografar para as redes com... um fuzil!
Por isso, o Oscar cai como uma luva para o
próprio Lula. Impopular ou não, errando aos borbotões ou não, Lula sempre
esteve contra a ditadura militar de 1964 e chegou a ser alvo da ditadura
planejada para 2023/2024. Aliás, se o golpe tivesse dado certo, haveria Ainda
Estou Aqui, os brasileiros teriam lotado os cinemas para vê-lo e o Brasil teria
ganhado o seu primeiro Oscar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário