Eliane Oliveira / O Globo
Em reuniões realizadas na semana passada com
representantes do setor privado, para discutir formas de reduzir os valores
cobrados pelos alimentos e, com isso, evitar novas altas na inflação, o governo
ouviu um cenário mais otimista: com a colheita da safra de grãos, a tendência é
de queda nos preços.
No caso da carne bovina, a cotação do produto, que havia ficado 15% mais barato em fevereiro, ante dezembro, pode ter uma nova queda de 10%. Foi o que informaram representantes dos produtores que estiveram reunidos com os ministros da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário, Carlos Fávaro e Paulo Teixeira, na quinta-feira passada.
Usados como ração para animais, o aumento da
produção de milho e soja fará com que as carnes em geral, incluindo suína e de
frango, ficarão mais baratas, segundo relatos feitos ao GLOBO sobre as
reuniões. Matéria-prima para o óleo de cozinha, a ampliação da oferta de soja
vai se refletir no preço do produto nas gôndolas dos supermercados, espera o
governo.
Segundo um executivo do setor de carnes, após
o Carnaval e com a quaresma, os preços baixam historicamente. No entanto, o
governo foi alertado que os custos continuam crescendo e, por isso, o repasse
da queda pode não ser, no varejo, na mesma proporção do atacado.
A alta da inflação preocupa o governo. O
preço dos alimentos mais alto é apontado como uma das causas da queda de
aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo estimativa da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab), este ano a safra de grãos, que já começou a ser colhida,
será recorde, com um volume de 325,7 milhões de toneladas. A ideia é que a
estatal pudesse intervir no mercado, para evitar o desabastecimento e alta de
preços, mas quase não há estoques reguladores disponíveis.
Entre as medidas para forçar a queda de
preços no mercado interno, uma delas é a redução das tarifas de importação de
produtos como milho e etanol. Mas, se as altas pararem, os estudos serão
suspensos.
A prévia da inflação, medida pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), mostra que a inflação de
alimentos teve um recuo na primeira quinzena de fevereiro. Entre as quedas
registradas, estão a batata-inglesa (8,17%), o arroz (1,49%) e as frutas
(1,18%). Apesar desse cenário, o governo decidiu "não baixar a
guarda", conforme um ministro de Estado.
Um novo encontro entre governo e setor
privado, desta vez ligado ao varejo, deve acontecer nesta quinta-feira. A
expectativa é que a reunião — anteriormente prevista para acontecer com a
presença de Lula — seja comandada pelo vice-presidente e ministro do
Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Estarão
presentes representantes dos setores de etanol, soja, milho e carnes.
No caso do etanol, conforme publicou O GLOBO no último sábado, a queda da tarifa pode ser usada em uma negociação com os Estados Unidos. O presidente americano, Donald Trump, anunciou uma tarifa adicional de 25% às importações de aço e alumínio e ameaçou subir as alíquotas de produtos que têm imposto maior do que o cobrado pelo governo americano. Um deles é o etanol, tributado em 18% quando chega ao Brasil e em apenas 2,5% se for exportado para os EUA.
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