Folha de S. Paulo
Fundo tem de parar de se ocupar de clima,
gênero e questões sociais, diz secretário do Tesouro
Donald Trump vai
encrencar com o FMI (Fundo
Monetário Internacional) e com o Banco Mundial também. Está
demolindo o Estado americano, quer reduzir a quase nada o apoio do Departamento
de Estado a democracias e direitos humanos, ataca
instituições de pesquisa e universidades, faz "guerra cultural".
O programa trumpista é amplo.
A encrenca com FMI e Banco Mundial foi
escancarada no discurso de Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA,
nesta quarta (23), no Institute of International Finance, um dos eventos da
temporada da reunião de primavera do Fundo.
Bessent disse que delineava ali "...um plano para restaurar o equilíbrio do sistema financeiro global e das instituições criadas para sustentá-lo" e sugeria "reformas chave" no sistema de Bretton Woods.
Era uma menção à conferência econômica de
1944 que acabou por acertar a criação do FMI e de outras instituições, reunião
que organizou o sistema monetário e de relações financeiras do pós-guerra, à
maneira dos EUA. Foi o início de alguma governança institucionalizada da economia
mundial, que por vários caminhos deu nisso que se chamou de
multilateralismo.
Bessent disse que o FMI não tem de se ocupar
de assuntos tais como "mudança
climática, gênero e questões sociais", que tomam recursos que deveriam
ser dedicados à "sustentabilidade
financeira e econômica" mundial, prejudicada por
desequilíbrios. O
Fundo deve se "reconectar" a seu "propósito original",
que seria o "de ajustar interesses nacionais com a ordem internacional,
assim levando estabilidade a um mundo instável". O desequilíbrio central
de hoje seriam os superávits comerciais de China e entorno e os déficits
americanos.
O FMI, a seu modo, contribuiria para dar cabo
dessa política chinesa de excesso
de oferta, de produção industrial, que é exportado. A China cria, assim,
problemas para si e para o mundo, que têm de ser resolvidos pelo consumo
americano (importações), acaba com a indústria dos EUA e com sua segurança
nacional e econômica.
Os chineses teriam de poupar menos, consumir
mais, assim como alguns outros países, que de resto têm salários
"artificialmente baixos". Segundo Bessent, o FMI tem de fazer
avaliações que escancarem tal problema.
A União
Europeia, por exemplo, já estaria tomando providências, gastando mais em
defesa e, assim também, estimulando sua economia. A Argentina estaria
fazendo reformas adequadas. Trump faz sua parte, com tarifas: mais de 100
países já teriam procurado os EUA a fim de ajudar a criar um
sistema internacional mais equilibrado.
Bessent falava como se estivesse a dar
ordens. Os EUA já podem dar ordens ao Fundo, direta e indiretamente. Têm 16,49%
dos votos do conselho do Fundo, bastantes para vetar mudanças maiores de
política (que precisam de 85% dos votos; a decisão de programas de socorro
exige 50% dos votos, mas os EUA têm grande poder informal nisso também).
Trump está comprometido com a manutenção e expansão
da liderança econômica dos EUA no mundo, disse Bessent. Assim, também é
preciso aumentar a liderança e influência dos EUA em instituições como o FMI e
o Banco Mundial e fazer com que elas cumpram seus mandatos. Assim, seria
possível "restaurar a justiça [fairness] no sistema econômico internacional".
Os EUA vão "exigir" que tais instituições prestem contas de que estão
fazendo progressos nesse sentido.
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