Correio Braziliense
De uma amostra de 1.273 aposentados e
pensionistas, segundo a CGU, 97% afirmaram nunca ter autorizado descontos em
seus benefícios por entidades sindicais
A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da
União (CGU) realizaram uma operação, nesta quarta-feira, contra um esquema de
fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), envolvendo diversas
associações de aposentados, que podem chegar a R$ 6,3 bilhões, em 12 estados e
no Distrito Federal, segundo as estimativas. Os desvios começaram no governo
Bolsonaro e ocorreram até o ano passado.
Tudo o que Lula não precisa é de um escândalo
no seu governo envolvendo fraudes contra aposentados. Irmão do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, o sindicalista Francisco Ferreira da Silva, o Frei Chico,
recém-eleito vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados,
Pensionistas e Idosos, entretanto, virou alvo da oposição sem ter nada a ver
com o escândalo. Pelo contrário, sequer tomou posse.
A entidade apoia as investigações. Milton Cavalo, presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), distribuiu nota na qual nega qualquer envolvimento da entidade: “Quando surgem denúncias de descontos irregulares nos benefícios, é essencial que essas alegações sejam levadas a sério e investigadas de forma rigorosa. Essas denúncias podem afetar diretamente a vida de muitas pessoas que dependem desses recursos para garantir seu sustento e bem-estar”.
O sindicato foi fundado há 25 anos como um
braço da Força Sindical, por um grupo de sindicalistas liderado pelo
ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santos Arnaldo Gonçalves, amigo
de Frei Chico e, como ele, ex-integrante do Comitê Central do antigo PCB. Com o
tempo, foram surgindo outras entidades, cada qual ligada a uma central
sindical, como as que estão sendo investigadas.
A operação deixou o ministro da Previdência,
Carlos Lupi, numa situação política muito delicada. É sua obrigação combater as
fraudes no INSS, mas as fraudes continuaram sob sua gestão. O ministro da
Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius Carvalho, em coletiva, explicou
que as associações envolvidas no esquema diziam prestar serviços como
assistência jurídica para aposentados e ofereciam descontos em mensalidades de
academias e planos de saúde, por exemplo.
Ao todo, 11 entidades foram alvo de medidas
judiciais. Os contratos de aposentados e pensionistas com essas entidades foram
suspensos, segundo o ministro da CGU. A investigação começou em 2023 na CGU, no
âmbito administrativo. Em 2024, após a CGU encontrar indícios de crimes, a
Polícia Federal foi acionada. Segundo o ministro da Justiça, Ricardo
Lewandowski, a PF abriu 12 inquéritos para apurar as fraudes.
De uma amostra de 1.273 aposentados e
pensionistas entrevistados pelos auditores da CGU, 97% afirmaram nunca ter
autorizado descontos em seus benefícios. Segundo Lewandowski, além de ter
havido falsificações de assinaturas, em 72% dos casos as entidades não tinham
entregado ao INSS a documentação necessária para fazer os descontos diretamente
nos benefícios. A Diretoria de Benefícios foi apontada como o núcleo do esquema
fraudulento.
Descontos indevidos
A primeira cabeça a rolar no governo foi a do
presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, homem de confiança de Lupi, que
assumiu toda a responsabilidade por sua contratação. Também foram afastados do
órgão o procurador-geral do INSS, Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho; o
coordenador-geral de Suporte ao Atendimento ao Cliente do INSS, Giovani Batista
Fassarella Spiecker; o diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão,
Vanderlei Barbosa dos Santos; e o coordenador-geral de Pagamentos e Benefícios
do INSS, Jacimar Fonseca da Silva; além de um policial
Stefanutto é filiado ao PDT e foi indicado,
em julho de 2023, para a chefia da autarquia previdenciária por Lupi. Antes de
ser nomeado presidente do INSS, foi diretor de Orçamento, Finanças e Logística
da autarquia. Também foi procurador-federal especializado junto ao INSS, de
2011 a 2017. Stefanutto participou do gabinete de transição do governo Lula
como consultor para assuntos de Previdência Social.
O INSS está no centro de uma série de
escândalos que afetaram milhões de aposentados e pensionistas em todo o país.
Em setembro de 2024, a Polícia Federal desarticulou uma organização criminosa
que obtinha ilegalmente dados de beneficiários para comercialização. O grupo
era composto por hackers que invadiam os sistemas do INSS, servidores que
vendiam suas credenciais de acesso e intermediários que comercializavam as
informações obtidas. Esses dados eram utilizados para fraudes, como contratação
indevida de empréstimos consignados e saques irregulares de benefícios.
A CGU também identificou um aumento
significativo nos valores descontados dos benefícios por entidades
associativas, passando de R$ 413 milhões em 2016 para R$ 2,8 bilhões em 2024.
Para verificar se foi vítima de descontos indevidos, o beneficiário deve acessar
o aplicativo Meu INSS e consultar o extrato de pagamento do benefício. Caso
identifique descontos não autorizados, é possível solicitar a exclusão
diretamente pelo aplicativo ou pela Central 135.
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