O Estado de S. Paulo
A reconquista do grau de investimento das agências de classificação de risco é o alvo
Os debates a respeito da estabilidade fiscal
construíram oportunidade histórica para mudar o Brasil de patamar. Na linha do
tempo, quando superamos o problema da dívida externa, vencemos as crises
cambiais e derrotamos a hiperinflação, endereçamos a esperança de uma economia
mais estável, previsível e de crescimento com desenvolvimento social. No
entanto, faltou consolidar medidas para garantir a solidez das contas públicas,
o que pode ser feito agora.
Medidas estruturantes são mais difíceis, mas são elas que vão permitir finanças públicas saudáveis e duradouras. Os debates acirrados em torno da proposta de solução das contas públicas no curto prazo, para este e o próximo ano, permitiram o amadurecimento da noção de que é preciso olhar além das medidas temporárias e emergenciais.
Abriu-se caminho para propostas mais
ambiciosas de mudanças, que avançaram para medidas de arrumação da estrutura
fiscal do País. Esse é um objetivo que poderá dar ao Brasil a conquista do
cartão de acesso à disputa da primeira divisão econômica global.
A reconquista do grau de investimento das
agências de classificação de risco é o alvo, e significa aumento do fluxo de
investimento estrangeiro e redução dos custos de captação internacional, além,
e principalmente, da queda da Selic.
O Brasil é hoje uma das dez maiores economias
globais, nossa balança comercial é robusta, temos diferenciais competitivos, e
o PIB cresce. O ajuste fiscal vai permitir saltos nessas qualificações. É um
cenário no qual todos serão vencedores.
Mas, no momento, a sensação é de aposta no
clima do quanto pior, melhor. O encaminhamento para a solução dos impasses
aparentes ainda é o da negociação paciente entre governo e Congresso, com a
participação ativa da iniciativa privada. É possível alcançar caminhos de
consenso, mesmo num ambiente político polarizado.
É complexo, mas necessário, traçar uma agenda
que tenha pontos básicos, como a desindexação da economia, a correção das
assimetrias tributárias com redução dos gastos com subsídios, além da garantia
de um Orçamento flexível, com as prerrogativas da União no seu lugar de
direito.
Cabe posicionar o ajuste fiscal em seu campo técnico. A proposta do governo tem pontos positivos, inclusive com o corte de gastos. Mas há outras que merecem atenção e mais debates. Estamos mais próximos de um avanço fundamental para o Brasil do que do retrocesso. Para isso, é preciso sair da linha de confronto.
*Presidente do Conselho Administrativo do Bradesco
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