segunda-feira, 16 de junho de 2025

Mais um capítulo do ajuste econômico – Luiz Carlos Trabuco Cappi

O Estado de S. Paulo

A reconquista do grau de investimento das agências de classificação de risco é o alvo

Os debates a respeito da estabilidade fiscal construíram oportunidade histórica para mudar o Brasil de patamar. Na linha do tempo, quando superamos o problema da dívida externa, vencemos as crises cambiais e derrotamos a hiperinflação, endereçamos a esperança de uma economia mais estável, previsível e de crescimento com desenvolvimento social. No entanto, faltou consolidar medidas para garantir a solidez das contas públicas, o que pode ser feito agora.

Medidas estruturantes são mais difíceis, mas são elas que vão permitir finanças públicas saudáveis e duradouras. Os debates acirrados em torno da proposta de solução das contas públicas no curto prazo, para este e o próximo ano, permitiram o amadurecimento da noção de que é preciso olhar além das medidas temporárias e emergenciais.

Abriu-se caminho para propostas mais ambiciosas de mudanças, que avançaram para medidas de arrumação da estrutura fiscal do País. Esse é um objetivo que poderá dar ao Brasil a conquista do cartão de acesso à disputa da primeira divisão econômica global.

A reconquista do grau de investimento das agências de classificação de risco é o alvo, e significa aumento do fluxo de investimento estrangeiro e redução dos custos de captação internacional, além, e principalmente, da queda da Selic.

O Brasil é hoje uma das dez maiores economias globais, nossa balança comercial é robusta, temos diferenciais competitivos, e o PIB cresce. O ajuste fiscal vai permitir saltos nessas qualificações. É um cenário no qual todos serão vencedores.

Mas, no momento, a sensação é de aposta no clima do quanto pior, melhor. O encaminhamento para a solução dos impasses aparentes ainda é o da negociação paciente entre governo e Congresso, com a participação ativa da iniciativa privada. É possível alcançar caminhos de consenso, mesmo num ambiente político polarizado.

É complexo, mas necessário, traçar uma agenda que tenha pontos básicos, como a desindexação da economia, a correção das assimetrias tributárias com redução dos gastos com subsídios, além da garantia de um Orçamento flexível, com as prerrogativas da União no seu lugar de direito.

Cabe posicionar o ajuste fiscal em seu campo técnico. A proposta do governo tem pontos positivos, inclusive com o corte de gastos. Mas há outras que merecem atenção e mais debates. Estamos mais próximos de um avanço fundamental para o Brasil do que do retrocesso. Para isso, é preciso sair da linha de confronto. 

*Presidente do Conselho Administrativo do Bradesco

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