Gilberto Scofield Jr.
DEU EM O GLOBO
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Brasil é um dos países com maior disparidade salarial da América Latina, diz BID
Afalta de projetos educacionais com foco em mulheres e minorias, especialmente entre os mais pobres, além da discriminação pura e simples, colocam o Brasil na incômoda posição de um dos mais desiguais da América Latina se levadas em consideração as defasagens salariais de gênero e entre brancos e outras raças/minorias, diz estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ao qual o GLOBO teve acesso com exclusividade e que será divulgado hoje.
No Brasil, as mulheres ganham, em média, 29,7% menos do que os homens, a maior diferença encontrada entre os 18 países avaliados pelo BID e quase o dobro da média da região (17,2%). A defasagem salarial por raça no Brasil é ainda maior, de 30%, e também a mais gritante entre as nações que estão no estudo do BID.
O relatório, intitulado "Novo século, velhas disparidades: diferenças salariais entre gêneros e etnias na América Latina", preparado pelos economistas Hugo Ñopo, Juan Pablo Atal e Natalia Winder, mostra que, na média da região, negros e indígenas ganham 28% a menos que os trabalhadores brancos, enquanto homens ganham 17,2% a mais que mulheres. Isso considerando grupos com a mesma idade e nível de instrução.
- A desigualdade salarial por gênero não chega a ser um problema grave em países desenvolvidos da Europa ou nos Estados Unidos, mas é uma realidade grave no Oriente Médio e, num segundo patamar, na América Latina, que é uma das regiões mais desiguais, do ponto de vista econômico, do mundo. O Brasil não tem tantas etnias diferentes como as 21 da Guatemala, mas, nem por isso, é menos desigual quando comparamos a remuneração de brancos com negros e descendentes de índios - comenta o economista Hugo Ñopo.
Diferença é maior no topo da pirâmide
O modelo de comparação salarial foi criado por Ñopo há sete anos, mas os dados dos 18 países latino-americanos envolvidos na pesquisa começaram a ser cruzados efetivamente há dois anos e tomaram como base, no Brasil, a Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (Pnad) e levantamentos semelhantes em outros países.
O relatório mostra que a defasagem salarial por gênero é alta, a despeito de as mulheres serem mais instruídas. As trabalhadoras têm, em média, 0,8 ano a mais de estudo do que os homens na América Latina, o que não impede que elas recebam bem menos mesmo em cargos semelhantes.
A defasagem salarial por gênero também é mais alta entre trabalhadores autônomos, em comparação com os que mantêm vínculos empregatícios formais nas empresas. A autonomia, dizem, é um ponto positivo e negativo neste caso. É bom porque dá flexibilidade para as mulheres dedicarem mais tempo aos filhos, mas, sem o apoio do parceiro, é também uma forma de afastá-las do mercado de trabalho, reduzindo sua renda.
No caso das etnias e raças, o BID incluiu no estudo apenas sete países onde havia informações étnicas disponíveis em suas pesquisas domiciliares: Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Guatemala, Peru e Paraguai. Segundo as estatísticas, há entre 28 milhões e 34 milhões de indígenas na América Latina (cerca de 10% da população) e, em todos os países, este grupo representa a maior fatia entre os pobres e miseráveis, apesar de todos os avanços sociais dos últimos anos.
Porém, curiosamente, as maiores diferenças salariais estão nos extremos da distribuição de renda, ou seja, entre os maiores e menores salários. E entre os homens, os mais velhos e os moradores de áreas rurais. O Equador é o país com menor diferença salarial: apenas 4%.
De certo modo, o estudo do BID evidencia, dentro dos países latino-americanos, o mesmo padrão de uso de mão de obra de minorias de países desenvolvidos. Esses trabalhadores estão empregados em ocupações de baixos salários. O que os economistas chamam de "segregação ocupacional" permeia o mercado de trabalho latino-americano, onde as minorias estão em posições de chefia ou de empregadores, que recebem os maiores salários.
- No caso de raça e etnia, o diferencial é notadamente a educação. E o que se diz aqui é a qualidade da educação, porque a má qualidade educacional das minorias, uma fatia da população mais pobre, dá a negros e índios menos condições de competir no mercado de trabalho - explica Ñopo.
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