terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Embaixador rejeitou encontro com Gabeira

DEU EM O GLOBO

Telegramas mostram, no entanto, que desconfiança americana pelo sequestro de Elbrick foi amenizada no governo Obama

Tatiana Farah

SÃO PAULO. O sequestro do embaixador americano Charles Elbrick durante os chamados "Anos de Chumbo", em 1969, ainda pautava, até bem pouco tempo, as discussões dos diplomatas dos Estados Unidos radicados no Brasil. Telegramas revelados ao GLOBO pelo WikiLeaks indicam, no entanto, uma mudança de postura nos últimos anos. Enquanto em 2004, durante o governo George W. Bush, o então deputado federal Fernando Gabeira, um dos envolvidos no sequestro, teve negado um encontro formal com o embaixador americano, John Danilovich, em 2009, já na gestão de Barack Obama, outro envolvido na ação, o economista Paulo de Tarso Venceslau, obteve no Consulado Geral de São Paulo seu visto de turista para entrar em território americano pela primeira vez. O documento, no entanto, quase foi barrado pela embaixada em Brasília.

O que pesou para a liberação do visto de Venceslau foi o risco da repercussão negativa e de um golpe nas relações bilaterais, segundo a ministra-conselheira da embaixada, Lisa Kubiske, em 15 de outubro de 2009.

"Com o novo governo dos EUA, tanto o governo brasileiro quanto o público estão considerando novas possibilidades para as relações bilaterais. Apesar de o cancelamento do visto ser um problema estritamente consular, pode gerar um significativo noticiário negativo que põe em questão se a política dos EUA para a América Latina mudou", escreveu a diplomata ao Departamento de Estado, lembrando, ainda, que outros integrantes do governo também poderiam se ressentir - como o ministro de Comunicação, Franklin Martins, outro envolvido no sequestro, o ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, que foi preso político com Venceslau, e o ex-ministro José Dirceu, um dos presos "trocados" pelo embaixador.

O telegrama mostra uma mudança no comportamento com a eleição do presidente Barack Obama. Se Kubiske teve dúvidas quanto ao visto de Paulo de Tarso Venceslau, em 12 de novembro de 2004, o embaixador John Danilovich não quis se encontrar com o então deputado Fernando Gabeira na Confederação dos Parlamentares das Américas, em Porto Príncipe. Danilovich chegou a sugerir ao Departamento de Estado que Gabeira não fosse sequer recebido na embaixada do Haiti.

Gabeira não tem visto para os EUA e não tentou obtê-lo. Ele confirmou ter ido ao Haiti duas vezes, mas diz não ter procurado a embaixada americana.

- Quando fazemos essas viagens, procuramos a embaixada, mas a do Brasil - afirmou o ex-deputado, que recebeu a notícia do "veto" com tranquilidade.

Procurado pelo GLOBO, Paulo de Tarso não retornou os telefonemas.

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