Ex-presidente diz a aliados que pode haver retaliação contra demissões
Integrantes da corrente majoritária do PT dizem que rito sumário coloca em risco as alianças que sustentam o governo
Catia Seabra e Natuza Nery
BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou a interlocutores sua preocupação com o estilo de Dilma Rousseff na condução da crise dos Transportes.
Nas conversas, Lula disse ter medo de que o rito sumário nas demissões e o temperamento de Dilma imponham riscos à governabilidade, levando-a ao isolamento.
O ex-presidente tem avaliado que, graças à aliança de 15 partidos, Dilma ainda possui capital político para tomar medidas drásticas, como a exoneração em massa de dirigentes nos Transportes.
Sua apreensão está na hipótese de desperdiçar esse ativo agora: ele teme que o troco aconteça num momento de fragilidade do governo.
Para descartar mal-estar com a ideia de que Dilma esteja tendo problemas com seu legado, Lula faz questão de repetir que o novo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, comandava a pasta no fim de sua gestão.
Petistas afirmam que Lula apoia o rigor de Dilma, mas discorda dos métodos, sobretudo do tratamento dado ao PR. Após as denúncias, a sigla foi excluída do processo de sucessão na pasta que comanda há quase nove anos.
"Ela criou um rito [de demissão]. Em caso de suspeita, vai ter que valer para todos, até mesmo para o PT", afirma o líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG).
A inquietação de Lula se estende ao PT: "Aplaudimos o rigor dela", disse o líder do partido na Câmara, Paulo Teixeira (SP). "A administração desse processo tem que ser feita, na minha opinião, com diálogo com o PR, tendo em vista a necessidade da governabilidade e a relação com os partidos", disse.
Integrantes da corrente majoritária do partido (Construindo um Novo Brasil, de Lula) reclamam que a fórmula de Dilma contraria o princípio da ala de costurar um amplo arco de alianças. A crítica é feita veladamente por várias tendências.
A mensagem é de alerta: Dilma diz que privilegiará técnicos no governo, então afasta-se da classe política.
PERSONALIDADE
Na opinião de petistas, a personalidade de Dilma contribuiu para esse distanciamento. Dizem que ela se aborrecia tanto quando ventilavam pela mídia nomes cotados para o ministério que sacramentou o convite a Paulo Passos num rompante.
Colaboradores constantemente se queixam dos arroubos de Dilma a ponto de temê-la. No PT, diz-se que Dilma é pouco aberta a críticas. Também confia em poucos.
Segundo a Folha apurou, Dilma ouve poucos aliados antes de tomar decisões.
O grupo de ministros do Planalto -Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil)- adotou um procedimento atípico até aqui: ensaiar um discurso comum para tentar convencer.
Frases
Ela [Dilma] criou um rito [de demissão]. Em caso de suspeita, vai ter que valer para todos, até mesmo para o PT
LINCOLN PORTELA
líder do PR
LINCOLN PORTELA
líder do PR
"A administração desse processo tem que ser feita com diálogo com o PR"
PAULO TEIXEIRA
líder do PT
PAULO TEIXEIRA
líder do PT
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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