Parte da bancada na Câmara cobra caciques por demora na nomeação de seus apadrinhados em cargos de 2º e 3º escalão
Eugênia Lopes
BRASÍLIA - A cúpula do PMDB da Câmara está provando do veneno do fisiologismo. Parte da bancada do partido pressiona seus próprios caciques por não ter sido contemplada com cargos de segundo e terceiro escalão no governo.
Com a demora na nomeação de apadrinhados, um grupo de deputados peemedebistas adotou o modus operandi tradicional no PMDB. Assim, ameaça apoiar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar suspeitas de corrupção no governo, caso não seja atendida prontamente.
A insatisfação com o alto clero do PMDB na Câmara ganhou força nos últimos dias. O movimento é composto pela ala do partido que não apoiou a condução de Dilma Rousseff à Presidência da República. São 35 deputados, de um total de 79. Desses, 20 estão descontentes com o não atendimento de suas reivindicações, ou seja, a não nomeação de seus indicados.
Estaria nessa situação, por exemplo, o deputado Lúcio Vieira Lima (BA), irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, atual vice-presidente de pessoa jurídica da Caixa Econômica Federal. Ambos haviam indicado um nome para uma diretoria do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), na Bahia. O cargo, não entanto, não saiu - graças à intervenção do governador da Bahia, o petista Jacques Wagner. Lúcio almejaria também ser líder do governo no Congresso, posto vago com a ida de Mendes Ribeiro (RS) para a Agricultura.
Em situação semelhante estaria a vice-presidente da Câmara, Rose de Freitas (ES). Ela não conseguiu emplacar uma indicação para uma comissão do Ministério do Turismo.
Já José Priante (PA), primo do senador Jader Barbalho (PA), estaria aborrecido com a demora na nomeação de Francisco Carneiro para a superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Santarém (PA). Priante pode abandonar a turma dos insatisfeitos em breve. Anteontem, a nomeação de seu pupilo foi publicada no Diário Oficial.
Líder. Essas críticas recaem, sobretudo, sobre o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). "O clima é de insatisfação, não de revolta", afirma o deputado Danilo Forte (CE), espécie de porta-voz dos lamuriosos. Antes dessa legislatura, Forte comandou, entre 2003 e 2007, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). O então ministro da Saúde, José Gomes Temporão, criticou sua gestão, mas o peemedebista, hoje insatisfeito, foi defendido com veemência pela cúpula de seu partido.
A principal crítica ao líder é a falta de consulta à bancada sobre suas decisões. Alves não ouviria os correligionários e privilegiaria o deputado Eduardo Cunha (RJ) com as melhores relatorias. "Não é verdade", afirma o cacique.
Segundo Alves, entre 27 encaminhamentos feitos neste ano para a função, Cunha ficou com apenas uma, a do Código Civil. "Ele pediu isso em fevereiro", diz. Os peemedebistas insatisfeitos também o acusam de dar prioridade a seu projeto pessoal: ser eleito presidente da Câmara em 2012.
O anúncio formal da escolha de Cunha como relator do Código Civil foi o estopim para os afoitos por cargos se exporem e contestarem o líder do partido. "Nada contra o Eduardo Cunha, mas seria melhor indicar para a relatoria um jurista, não um financista", argumenta Danilo Forte. "Quem não estiver satisfeito, não é obrigado a concordar e a participar da comissão que vai analisar o Código", rebate Cunha.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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