segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Ela & Ele :: Melchiades Filho

O noticiário parece jogar uma contra o outro, tantas demissões e rupturas pontuais num governo que prometia apenas continuidade. Dilma e Lula, porém, seguem no mesmo time, unidos pelo passado e pela perspectiva futura.

A ela e a ele interessa que persistam dúvidas sobre a autonomia da nova Presidência e sobre qual dos dois será o candidato em 2014.

Para Dilma, os focos simultâneos de expectativa de poder facilitam a "governabilidade". Diminuem o trauma das demissões no ministério. Impedem que a situação fuja de controle dentro do Congresso.

Um partido ou um político que perde a vez com Dilma tem de pensar bem antes de pular do barco.

Não somente pela formidável capacidade de retaliação do Executivo no presidencialismo brasileiro.

Mas também porque Lula pode voltar para remontar o que a sucessora hoje desmonta. Se há uma chance de as coisas se acertarem logo mais adiante, para que romper?

Sem falar que o estilo abrasivo de Dilma, considerado suicida pela velha guarda de Brasília, pode eventualmente "encaixar" com o eleitorado -colocando-a no trilho da disputa pelo segundo mandato.

Todo esse quadro de incertezas deixa a presidente mais à vontade para mexer na equipe, escantear antigos aliados e, sobretudo, desmantelar núcleos que operavam orçamentos à margem do Planalto.

Dilma sabe que será julgada no final do governo pelo que havia prometido. Precisa corroborar a imagem de mulher forte e capaz de entregar obras. Tirar do caminho ministros incompetentes e/ou corruptos é imperativo de gestão, não só conveniência de marketing.

Quanto a Lula, a "faxina" pode até lhe corroer a popularidade. Mas o custo é baixo. O mito do "gênio do entendimento" sai revigorado. Todo político ou empresário desgostoso passa a girar na órbita dele.

A vaidade humana costuma pregar peças. O roteiro, porém, não prevê colisão entre criador e criatura.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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