Gleisi Hoffmann conclama deputados do partido a sair em defesa do governo e evitar conflitos internos; avaliação é de que insurgência nas bancadas de siglas que apoiam Dilma poderia levar a derrotas em votações ou mesmo à criação de uma CPI
Denise Madueño
BRASÍLIA - Com focos de insurgência interna em diferentes partidos da base, a articulação política do governo busca a unidade do PT para garantir estabilidade nas votações na Câmara e afastar qualquer risco de a insatisfação de aliados se materializar em assinaturas para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar denúncias de corrupção no Executivo.
A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, foi a portadora do apelo. Ela se reuniu com a bancada do PT na Câmara, na semana passada, e deixou claro o recado: "Nós temos a maior parte dos ministérios e quem está no governo tem de ter responsabilidade. A bancada é fundamental na defesa do governo".
Nos últimos dias, o Palácio do Planalto tem assistido a conflitos internos em sua ampla base de sustentação e o temor é que os líderes, interlocutores do governo, não tenham mais tanto controle sobre suas bancadas. Os insatisfeitos com as lideranças, por exemplo, podem querer dar o troco nas votações, prejudicando os interesses do Planalto.
No PMDB, segunda maior bancada na Câmara, com 79 deputados, cresceu a movimentação do grupo contrário à atuação de Henrique Eduardo Alves (RN). No PP, a rebelião resultou na destituição do líder Nelson Meurer (PR), do grupo do ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP-BA) e atingiu contornos de escândalo.
Deputados da bancada, segundo reportagem publicada na revista Veja, informaram à ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que Negromonte estaria prometendo uma mesada de R$ 30 mil a parlamentares do partido em troca de apoio político a ele. O ministro negou a denúncia. Ideli, por sua vez, deixou claro que a única informação que chegou ao Planalto foi a divisão na bancada do PP.
Efeito controlado. Até agora, as rebeliões internas não afetaram negativamente o governo. Na única votação em que essa fidelidade foi posta à prova, na semana passada, a base garantiu a aprovação de mudanças na estrutura dos Correios, previstas em medida provisória, mesmo com algumas defecções no PMDB. A votação marcou a estreia do PR na anunciada posição de independência, com os votos majoritariamente contrários à orientação do governo. Dos presentes do PR, só Luciano Castro (PR-RR), vice-líder do governo na Câmara, votou com o governo.
"É uma base muito grande, com visões diferentes e interesses diversificados. É aí que a unidade do PT é fundamental. A responsabilidade está bem aqui, na defesa do governo", insistiu a ministra Gleisi aos petistas. O temor do governo pode ser traduzido em votações desastrosas para o Executivo.
Perturba o governo o fantasma da proposta de emenda constitucional, chamada de PEC 300, que fixa um piso salarial nacional para os policiais civis, militares e bombeiros com um fundo que será bancado pela União.
"A gente trabalha com uma limitação que é do tamanho do bolso do contribuinte", enfatizou a ministra Gleisi aos petistas, em resposta a uma intervenção da deputada Benedita da Silva (RJ), feita durante a reunião de quinta-feira. "Há uma mobilização nacional e fica difícil para nós não discutirmos (PEC 300) isso", disse a deputada, mostrando a pressão sobre os parlamentares pela votação da proposta.
Além de tentar barrar propostas com impacto incômodo nas contas da União, o governo tem seus próprios interesses, como a aprovação do programa nacional de acesso ao ensino técnico. Na pauta do governo está também a divisão dos royalties do petróleo da camada pré-sal. "Royalties é um desafio para nós. Não queremos retirar direito, mas não queremos concentração", resumiu Gleisi.
PROJETOS-BOMBA
O governo precisa da base aliada para barrar:
1) A proposta de emenda constitucional que cria o piso salarial nacional para os policiais civis, militares e bombeiros, conhecida por PEC 300
2) O projeto de lei complementar que regulamenta os gastos da União, dos Estados e dos municípios com a área da saúde - conhecida por Emenda 29
O governo precisa da base aliada para aprovar:
1) A proposta de emenda constitucional que prorroga por quatro anos mecanismo que permite o livre uso de 20% das receitas do Orçamento, a chamada Desvinculação de Receitas da União (DRU)
2) O projeto que distribui os royalties do petróleo da camada pré-sal entre União, Estados e municípios
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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