- Folha de S. Paulo
Considero positiva a decisão da presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, de, na qualidade de plantonista do Supremo, homologar as delações premiadas da Odebrecht. Como eu já havia defendido aqui, a medida tem o mérito de sinalizar que a Lava Jato foi institucionalizada, não dependendo só da vontade individual deste ou daquele juiz para avançar.
É pena que a ministra não tenha determinado também o fim do sigilo sobre as acusações que ex-diretores da empreiteira fazem a políticos. Pode-se até ver virtude no gesto de Cármen Lúcia. Ela, afinal, resistiu à tentação de, liberando tudo, converter-se na nova paladina da justiça e musa da Lava Jato. Heróis e ídolos são tudo o que não precisamos no momento. Para que se possa afirmar que a operação de fato trouxe ganhos institucionais, é necessário que ela dispense todo tipo de voluntarismo e se converta no novo normal do país, desmentindo a noção de que poderosos não respondem por crimes que tenham cometido.
Não tendo sido Cármen Lúcia a levantar o segredo, é importante que o próximo relator do caso o faça logo que assumir a incumbência. O fim do sigilo não apenas acabaria com os vazamentos seletivos —uma mácula na atuação da Justiça— como daria início ao tão necessário processo de reconhecimento de perdas pelo qual a política brasileira precisa passar.
Compreende-se que boa parte das cúpulas partidárias e, especialmente, o governo estejam receosos de ver a materialização daquilo que chamam de "fim do mundo". Mas atrasar a chegada do inevitável não é apenas inútil. É contraproducente.
Enquanto não ficar mais ou menos claro quais caciques sobreviverão à Lava Jato e quais se inviabilizarão, será muito difícil superar a crise política. Não dá para saber nem quem terá condições de lançar-se candidato a presidente em 2018. E, sem essa e outras definições, a política simplesmente não anda.
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