• Cármen Lúcia acelera processo mas mantém sigilo dos depoimentos, que poderá ser suspenso com escolha de relator
Chamada de delação do fim do mundo pelo volume de políticos e empresários que envolve, as revelações de 77 executivos e ex-dirigentes da Odebrecht foram homologadas pela presidente do STF, Cármen Lúcia, e vão provocar a abertura de inquéritos contra autoridades. A ministra manteve o sigilo dos depoimentos. O Planalto torce para que tudo seja divulgado de uma vez, evitando escândalos a conta-gotas. Nos próximos dias, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidirá quantas pessoas serão investigadas e em quantos inquéritos. A abertura formal das investigações ficará a cargo do próximo relator da Lava-Jato no Supremo, em substituição a Teori Zavascki, morto num acidente de avião.
Depois de delação, Planalto revela ansiedade
• Para governo, é melhor sofrer o impacto de uma vez do que ficar refém de vazamentos que paralisam as ações
Simone Iglesias, Eduardo Barretto e Catarina Alencastro | O Globo
-BRASÍLIA- Após a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, homologar as 77 delações de executivos da Odebrecht, o Palácio do Planalto espera agora que seja levantado o quanto antes o sigilo do material, vindo a público os nomes de todos os políticos citados nos depoimentos. Na avaliação de auxiliares do presidente Michel Temer, é melhor para o governo sofrer um grande impacto de uma única vez com o que vier a público, do que ficar refém de vazamentos a contagotas durante meses e sem condições de avaliar quem de fato precisa ser afastado.
Segundo interlocutor do Planalto, o desgaste ao núcleo do governo será inevitável. Com isso, seria melhor que os prejuízos ocorressem de uma só tacada, em fevereiro, antes de a Câmara e o Senado se debruçarem sobre as reformas trabalhista e da Previdência.
— Vazamento seletivo é roleta russa, você nunca sabe quem vai ser atingido. Isso deixa o governo sangrando, atrapalha a economia do país e a agenda de votações — diz um assessor presidencial.
Se perdurar o sigilo, disse um auxiliar de Temer, a tendência é que sejam vazadas informações relacionadas a políticos em evidência, no momento, o que pode afetar inclusive os novos presidentes do Senado e da Câmara, que devem ser eleitos amanhã e quinta-feira, respectivamente.
Em dezembro do ano passado, o Planalto se irritou com o vazamento da delação do exexecutivo da Odebrecht Cláudio Mello Filho citando Temer, seu núcleo mais próximos, o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o assessor especial, Moreira Franco, e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Renan Calheiros. O presidente inclusive enviou um ofício ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedindo rapidez nas investigações, o fim do sigilo, e criticando a divulgação da delação.
Segundo um assessor, o presidente tem dito internamente que gostaria que todas as acusações viessem à tona de uma vez para fazer rapidamente as mudanças necessárias na Esplanada e no Planalto para, então, tocar o governo.
Ontem, em viagem a Pernambuco, Temer elogiou a decisão de Cármen Lúcia de homologar as 77 delações.
— A presidente Cármen Lúcia até tinha pré-anunciado que muito possivelmente faria a homologação. Acho que ela fez o que deveria fazer e nesse sentido fez corretamente.
Quanto a eventuais vazamentos por conta da manutenção do sigilo, Temer afirmou ter “certeza” de que não haverá vazamento seletivo.
— De vez em quando sai um ou outro vazamento, eu não sei. Eu confesso que estando lá no Supremo Tribunal Federal eu duvido que haja vazamento. Eu conheço a seriedade, a competência, a extraordinária capacidade administrativa e judicial da presidente Cármen Lúcia, eu tenho certeza que vazamento não haverá — disse Temer em rápida entrevista na cidade de Floresta (PE), onde foi inaugurar estação de bombeamento nas obras de transposição do Rio São Francisco.
Com a homologação, caberá ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidir sobre abertura de inquéritos e investigações. O Planalto também aguarda para ver o modo de agir de Janot.
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