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Rolou mais uma
Em versão atualizada e enxuta, está de volta o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) – e congêneres, desta vez sob a chefia do vereador Carlos Bolsonaro, vulgo Zero Dois, o temido colecionador de cabeças que assombra a República desde que seu pai vestiu a faixa presidencial, lá se vão quase oito turbulentos meses.
Em sua versão original, datada do início dos anos 60 do século passado, o CCC foi uma organização paramilitar anticomunista de extrema direita composta por estudantes e policiais favoráveis à implantação no país de um regime autoritário. Com o golpe militar de 64, passou a caçar os adversários da ditadura.
Como o capitão, o Zero Dois acha que o Brasil poderá ser uma presa fácil para o comunismo que ainda estaria vivo por toda parte e ameaçador. Dedica-se à tarefa de defender o pai de todos aqueles que enxerga como inimigos – à esquerda ou à direita, não importa. E para isso só haveria uma solução: decapitá-los.
Foi o que já fez com os ministros Gustavo Bebbiano (Secretaria-geral da Presidência) e Santos Cruz (Secretaria do Governo). E agora com o jornalista Paulo Fona que só ficou sete dias como assessor de imprensa da presidência da República. Em menos de oito meses, Bolsonaro já teve três assessores de imprensa.
Em junho último, Fona foi chamado para uma conversa com Fabio Wajngarten, chefe da Secretaria de Comunicação Social da presidência. Wajngarten quis ouvi-lo sobre sua experiência como assessor de imprensa de dois governos no Distrito Federal (PMDB e PSB) e de um no Rio Grande do Sul (PSDB).
No final do mês, em novo encontro, Wajngarten convidou Fona para ser o assessor de imprensa de Bolsonaro. O jornalista sugeriu que ele pesquisasse sua vida profissional para se certificar melhor da escolha que fazia. Forneceu-lhe todos os seus dados pessoais – CPF, Carteira de Identidade e nomes de antigos empregadores.
Quinze dias depois, o martelo foi batido durante o terceiro encontro dos dois, e Fona apresentado como assessor de imprensa aos generais Luiz Eduardo Ramos Pereira (ministro da Secretaria de Governo) e Otávio Rêgo Barros (porta-voz da presidência da República). Em seguida, a notícia vazou para a imprensa.
A nomeação só foi formalizada no dia 6 de agosto porque Fona demorou a providenciar cópias do certificado de reservista e do diploma de bacharel em jornalismo. Ontem à tarde, um auxiliar de Wajngarten chamou Fona ao seu gabinete e disse que Bolsonaro mandara demiti-lo. Não se deu ao trabalho de explicar por quê.
Funcionário da liderança do PSB no Senado até 31 de julho, o jornalista é o mais novo desempregado da praça. Quem aconselhou Bolsonaro a demiti-lo foi o Zero Dois por considerá-lo de esquerda. Carlos não descansará enquanto não despachar com o pai em Brasília como o responsável pela área de comunicação do governo.
Cuide-se Wajngarten, mas não só ele. Rêgo Barros, pouco a pouco, vem sendo desidratado como porta-voz. Começa a circular nos corredores do Palácio do Planalto uma pergunta que põe o futuro do general em xeque: para quê Bolsonaro precisa de um porta-voz se ele mesmo não para de falar sobre tudo e qualquer coisa?
Zero Três é reprovado no primeiro teste como negociador
Para decepção do pai...
Há meses que o capitão Jair Bolsonaro fizera uma encomenda especial ao seu filho Eduardo, o Zero Três, deputado federal pelo PSL paulista e desde fevereiro presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara: era preciso apressar a aprovação do acordo entre o Brasil e os Estados Unidos para uso conjunto da base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão.
O acordo fora anunciado por Bolsonaro em sua primeira visita aos Estados Unidos depois de empossado na presidência da República. Os olhos azuis do presidente Donald Trump brilharam de satisfação ao saber que tudo fora resolvido. Retribuiu a notícia dada por Bolsonaro mimando seu filho Eduardo durante uma entrevista coletiva nos jardins da Casa Branca.
Indicado para embaixador do Brasil em Washington, cargo que exige do seu ocupante não só experiência como exímia habilidade para compor interesses contrários, Eduardo decepcionou o pai ao falhar no seu primeiro teste como negociador. Por mais que tenha se esforçado, não conseguiu que a comissão que preside aprovasse, ontem, o acordo prometido a Trump.
A votação do acordo foi empurrada para outra data por deputados de oposição e do chamado Centrão – esses, que ora apoiam o governo, ora não, e ora cobram caro para apoiar. O motivo alegado para o adiamento foi justamente o fato de que a nomeação de Eduardo para embaixador poderia contaminar a votação. O que isso quer dizer não se sabe. Contaminaria a favor ou contra?
O anfitrião de Bolsonaro
Às margens plácidas do rio Parnaíba
Era uma questão de honra para Francisco de Moraes Souza, conhecido como Mão Santa, levar mais um presidente da República a visitar a cidade onde o prefeito é ele – Parnaíba, no Piauí, a quase 350 quilômetros de distância de Teresina, a capital.
Michel Temer esteve lá em agosto último, mas quase deixou de ir. Ao convidá-lo, Mão Santa garantiu que o sucesso da visita seria maior se Marcela, mulher de Temer, também fosse e pudesse ser vista de biquíni às margens do rio Parnaíba. Temer aborreceu-se.
O presidente Jair Bolsonaro, esta manhã, desembarcará em Parnaíba a convite de Mão Santa para inaugurar a “Escola Jair Messias Bolsonaro” e a “Avenida João Batista de Oliveira Figueiredo”, nome do último general presidente da ditadura de 64.
Michelle, mulher de Bolsonaro, também foi convidada por Mão Santa, mas o governo não informou se ela irá. Se for, ela e o marido serão agraciados com o título de cidadãos de Parnaíba, a ser conferido pela Câmara Municipal da cidade em sessão solene.
Ex-governador do Piauí cassado por corrupção, ex-senador, Mão Santa é amigo antigo de Bolsonaro e chegou a ser sondado por ele em 2017 para ser seu vice. Para isso teria de renunciar à prefeitura de Parnaíba como mandava a lei. Mão Santa preferiu ficar por lá.
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