- Folha de S. Paulo
Presidente tenta impor uma versão distorcida da revelação de que teve assessora fantasma
O medo de fantasmas fez o ex-presidente Michel Temer rejeitar o Palácio da Alvorada e preferir morar na residência do Jaburu.
Jair Bolsonaro ainda não reclamou de almas estranhas perambulando pela casa presidencial, mas tem um fantasma que perturba o presidente desde o ano passado. Seu nome é Wal do Açaí, ex-assessora do gabinete dele dos tempos de Câmara.
Na sexta-feira (29), Bolsonaro voltou a tocar no assunto em meio a mais uma ameaça que fez à Folha. Ao comentar a decisão autoritária de excluir o jornal da lista de veículos de imprensa de uma licitação da Presidência, citou o episódio da Wal e distorceu novamente a história.
Ele insiste na versão de que ela não era fantasma, afinal estava de férias em janeiro de 2018, quando a Folha investigava se a servidora prestava de fato serviços ao gabinete político.
"Tiveram a reputação dessa senhora casada destruída. Vítima de chacota na região. A Folha fez isso com essa mulher. A prova estava dada para vocês. Estava de férias", disse.
Bolsonaro espalha informação falsa ou tenta enganar as pessoas. Talvez por não engolir ter sido colocado na vala dos deputados que sempre usaram verba pública para contratar assessores que nunca trabalharam.
Em janeiro de 2018, moradores vizinhos à casa de praia de Bolsonaro, a 50 km de Angra dos Reis, contaram, em conversas gravadas, que Walderice Santos da Conceição, dona da lojinha "Wal Açaí", vendia açaí e o seu marido era o caseiro da residência do hoje presidente. Não havia nenhuma atividade parlamentar.
Em agosto do mesmo ano, a Folha comprou das mãos de Walderice um açaí e um cupuaçu, durante o horário de expediente dela na Câmara. Encurralado, Bolsonaro então a demitiu e contou essa lorota: "Tem dois cachorros lá [na casa], e pra não morrer, de vez em quando ela [Wal] dá água pros cachorros lá, só isso".
Quase dois anos depois da revelação do caso, o presidente quer impor uma narrativa. A verdade é que ele pagou com dinheiro público da Câmara uma funcionária fantasma.
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