O Globo
Esta semana trouxe para a minha geração um sopro de esperança. Com a chegada da vez dos cinquentões na fila da vacina e a iminência de as pessoas de mais de 40 anos também começarem a ser contempladas (quarta-feira sou eu!), a sensação é de alívio, por ver irmãos, companheiros, primos, cunhados, amigos de infância, colegas de faculdade e outros contemporâneos finalmente a caminho de estarem mais protegidos contra o vírus que paralisou nossa vida há um ano e três meses, já.
Vacina é liberdade, pensei quando recebi a
foto do meu marido tomando a primeira dose da vacina no braço esquerdo, no dia
do seu aniversário.
E é por essa constatação básica, a que cada
vez mais brasileiros chegarão à medida que a imunização avançar, que é mais
criminosa a contraposição que Jair Bolsonaro, sempre ele, faz entre vacinação e
liberdade.
A explicação (sic) dada pelo presidente no cercadinho dos horrores de seus seguidores para não sancionar, caso seja aprovado, o projeto em tramitação no Congresso que cria uma espécie de passaporte de imunidade é sem pé nem cabeça. Mal disfarça a real motivação de Bolsonaro: ele é, incorrigivelmente, um “antivax”. Continua a sabotar a vacinação mesmo quando estamos chegando a 500 mil mortos, e a CPI avança para responsabilizá-lo e a seu governo por essa matança.
Segundo a lógica tortuosa do capitão,
sancionar o projeto implicaria tornar a vacina obrigatória, algo que ele, em
nome de uma liberdade difícil de compreender, nunca fará.
O mesmo Bolsonaro, menos de uma semana
antes, dizia que a vacina, vejam só, seria o passaporte para a liberdade de
andar sem máscara. Existe uma clara contradição entre as duas falas, ambas
estapafúrdias e fruto do mesmo negacionismo, traduzido em política de Estado.
Ironicamente, o Certificado de Imunização e
Segurança Sanitária, estabelecido pelo projeto de lei 1674/2021, contra o qual
o presidente se insurgiu, seria um passaporte para muitos dos fetiches
bolsonarescos: relaxar medidas de distanciamento social, garantir o tão repisado
e pouco compreendido “direito de ir e vir” e realizar, com maior grau de
segurança, eventos com público. Não, ele não torna a vacinação obrigatória,
como desinforma uma vez mais Bolsonaro.
Vai funcionar? Talvez não. A crítica feita
pelo vice, Hamilton Mourão, em entrevista a Malu Gaspar, é mais razoável:
parece uma ideia de difícil execução no Brasil. Embora o general também se
equivoque ao dizer que as pessoas teriam de andar com um papel para todo canto.
Trata-se, pelo projeto, de um documento digital, consultado numa base de dados.
Mais: com 11,4% da população apta a ser
vacinada tendo recebido as duas doses, é uma discussão inócua neste momento.
Porque o Brasil não tem como garantir passaporte de imunidade a ninguém com o
vírus em alta taxa de transmissão.
Por tudo isso, uma vez mais, o que
Bolsonaro faz é o oposto do que propaga: o presidente investe contra a
liberdade, que só será plenamente assegurada quando um grande percentual da
população estiver finalmente vacinado. É esse tipo de discurso que um estadista
responsável tem de fazer.
Liberdade é aquilo que começam a desfrutar
moradores de vários pontos dos Estados Unidos em que a vacinação avança de
vento em popa.
Existe um consenso entre economistas,
historiadores e cientistas, segundo o qual a grande depressão causada pela
Covid-19 será sucedida por um boom de crescimento, prosperidade, inovação
científica e tecnológica, revoluções culturais e comportamentais. É o que
acontece em períodos subsequentes a pandemias e guerras.
Essa verdadeira e desejável liberdade não
será vivida de forma tão pujante no Brasil, preso a uma administração tacanha,
que subjuga a vida e os reais direitos da população à ignorância orgulhosa de
um governante errado no momento mais errado possível.
Um comentário:
Brasil tem tudo para ir para frente. Mas foram 13 de atraso com o mau gosto do partidinho PT.
O PT é brega, cafona, barango e o Kitsch político. Além de ser truculento e falso. Utilizar de tudo quanto é artimanha publicitária para enganar as pessoas constantemente, eis aí o jeitão petista de ser (não é durante eleição não. É sempre o ano todo!).
Engraçado, a direita tomou as ruas no 1º de maio. Dia do Trabalho. Dia do Trabalhador. Achei esquisito. A esquerda covarde, sumiu… Ficou apenas na friorenta internet e online (fraqueza cognitiva).
Pois se fazem de Cordeirinhos, quando são Raposas e o Lobo Mau do Chapeuzinho Vermelho.
Bom, a esquerda caviar é mais ou menos como a capa do livro do Constantino. Um cara mais experiente. Sentado em seu sofá, fumando um charuto cubano.
A esquerdinha caviar é mais esse pessoal que dá a mão para fazer ciranda. Canta emocionado “um outro mundo é possível”. O narciso se destaca quando coloca uma tarjinha em volta da foto do Facebook ( Diz a si mesma: “– Já sou de esquerda! Coloquei minha tarjinha!”). Toda pós-moderninha. Gente de várias idades (tem barbudo também), tipo Duvivier (Duvivier é esquerdinha caviar). Mas em geral é novinha, como aquelas moças que xingam caso você fale: “Alta-cultura!”(Só admitem vocabulário pós-moderno…).
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