Valor Econômico
Necessidade de dizer que vai cumprir a lei
é sinal de alerta
Em um aceno para dirimir resistências ao
seu nome no mercado, Luiz Inácio Lula da Silva fez recentemente elogios
públicos ao presidente do Banco Central. Não foi lá uma carta aos brasileiros,
como o documento que lançou em 2002. Mas Lula aproveitou uma entrevista ao SBT
para enviar, digamos assim, um “telegrama falado” ao mercado.
Roberto Campos Neto, disse, é uma pessoa
razoável e um economista competente. E ainda acrescentou que um BC autônomo não
lhe causa problema, uma vez que em seu governo a autoridade monetária teve
muita independência.
Foi, possivelmente, o movimento mais
ambicioso que Lula fez nessa direção nesta campanha. Inclusive porque essa
opinião está longe de ser unanimidade no PT, onde ainda se vê forte objeção à
lei que garantiu autonomia ao BC.
Mas a declaração tem potencial para interditar eventuais críticas do PT à autonomia do Banco Central. Além disso, ela foi dada em meio à pressão para que revele nomes de integrantes de uma eventual equipe econômica (em caso de vitória petista, claro).
A tendência, até segunda ordem, é Lula
resistir. Interlocutores afirmam que a escalação parece pronta na sua cabeça.
Ocorre, contudo, que o ex-presidente demonstra querer ser, à luz do que fez
entre 2003 e 2010, o seu próprio fiador perante os agentes econômicos. Enquanto
isso, caberá ao mercado acompanhar as declarações públicas do petista com
atenção.
Algo semelhante ocorreu em 2002, quando
Lula encaminhava-se para vencer sua primeira eleição presidencial.
Um relato detalhado é feito por Fernando
Henrique Cardoso, em seu livro “A arte da política - a história que vivi”. O
ex-presidente lembra como os fundamentos do real voltaram a ser testados
naquele ano.
Àquela altura, anota FHC, não se sabia
quanto o petista e seu partido haviam mudado. Diante de uma cena internacional
desanimadora, o risco político começou a influenciar mais o mercado em maio,
quando ficou claro que Lula havia conquistado camadas da população que antes
lhe eram adversas. Em junho, porém, a situação financeira se deteriorou.
O mercado temia Lula. E nesse contexto, era
visto como fundamental que os postulantes à Presidência fizessem declarações
dizendo que respeitariam as regras do jogo.
Decidiu-se, no Palácio do Planalto, que
líderes do PT seriam procurados para que fosse mostrado como declarações dos
candidatos a presidente criavam efeitos danosos no esforço da equipe econômica
para rolar a dívida interna. “Também era importante continuar a discussão sobre
alterações no artigo 192 da Constituição para permitir, posteriormente,
autonomia operacional ao BC”, apontou FHC.
Em entrevista à coluna, Arminio Fraga
relembra passagens daquela época. “O que estava acontecendo em 2002 foi uma
crise de confiança que tinha como fundamento as ideias que o PT defendeu ao
longo da sua vida e que faziam parte, inclusive, dos seus documentos,
programas, e assustavam”, disse o ex-presidente do Banco Central ao Valor, um dia antes de declarar
voto em Lula devido a preocupações com a qualidade da democracia no Brasil.
“Aquilo gerou um pânico que eles nunca reconheceram. Acho que nunca foi
conveniente. É muito fácil mascarar isso para quem não é do ramo.”
Para Arminio, é possível dizer que “Lula
causou a crise e também ele próprio resolveu”. Essa solução veio primeiro com a
divulgação da famosa “Carta ao povo brasileiro”, na qual o então candidato
dizia que o Brasil queria mudar para crescer, incluir e pacificar. Na missiva,
de 22 de junho de 2002, Lula garantiu respeito aos contratos e às obrigações do
país. E reafirmou seu compromisso com o controle da inflação, defendendo uma
transição lúcida e criteriosa.
Era o que o mercado queria ler. Na
sequência, ficou claro que Antonio Palocci, visto como moderado, estaria à
frente da equipe econômica. Sob a ótica dos agentes econômicos, um novo alívio.
Mas a situação dos fundamentos econômicos
não era tão ruim. “O governo tinha dívida em dólar, que foi um pouco um risco
que nós resolvemos correr para não antecipar a crise”, contou o ex-presidente
do BC à coluna, comparando a situação à utilização de uma espécie de esteroide.
“Se você está querendo se proteger”, disse, mimetizando o diálogo que poderia
ter mantido com algum interlocutor à época, “toma aqui um pouco [de dólar] para
não jogar o câmbio ainda mais para cima.”
Rapidamente ficou claro que o câmbio estava
exibindo um termômetro para o medo que existia naquele momento. Por outro lado,
o sistema financeiro estava robusto e a situação fiscal já vinha com um
superávit primário há algum tempo. A inflação subiu em razão do chamado repasse
cambial de preços, mas, depois, desacelerou à medida em que o dólar foi caindo.
“No que diz respeito ao Banco Central, eles
fizeram uma opção que hoje eu acho que foi correta. Eu ofereci ficar seis
meses, quem quer que fosse o ganhador, para ajudar numa transição, e eles
optaram por me substituir, o que eu acho que foi bom”, afirma Arminio. “Naquele
momento, talvez eu até levasse um crédito que claramente não era meu. O crédito
é dele próprio [Lula], que jogou fora o programa do PT. Eu fui embora, mas a
minha diretoria toda ficou e foi saindo aos poucos.”
Assim como elogia o trabalho realizado por
Campos Neto, Arminio Fraga aponta a competência com a qual Henrique Meirelles o
sucedeu. “Ele [Lula] chamou o Meirelles, que se mostrou um presidente
competente para o Banco Central e foi substituindo a equipe. Foi alguém que ele
próprio apoiou durante os oito anos, contra, basicamente, um mundo de petistas
que gostariam de se livrar do Meirelles.”
Lula pode até não querer precipitar
anúncios sobre os colaboradores que pretende ter, caso vença. Mas poderia calibrar
os recados que tenta dar ao mercado. A simples necessidade de dizer que vai
respeitar a lei, como é a legislação que garante autonomia ao BC, pode soar
estranho para os ouvidos mais treinados. É o caso do próprio Arminio Fraga.
Um comentário:
Em resumo, LOOLA não tem nada a ver com o brasil atual. Incrível como têm intelectuais falsos, com raciocínios falsos, defendendo esse cara. Pessoal, vocês ficaram loucos?
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