O Globo
Moeda única? Pergunte aos exportadores
brasileiros se topam receber em pesos argentinos, bolívares venezuelanos
A proposta de criação de uma moeda comum
para os países da América do Sul — o sur — é derivada de uma tese mais ampla, a
diplomacia Sul-Sul, cuja base é a seguinte: o Norte rico e desenvolvido —
basicamente Estados
Unidos e União Europeia/Inglaterra —
exerce dominação econômica e política sobre o Sul emergente e pobre. Logo,
controla as finanças e o comércio — via dólar — e as políticas internacionais.
Como escapar disso? Unindo o Sul contra o
Norte. Tem aí, claro, o antiamericanismo que molda o pensamento de esquerda,
especialmente na América Latina. Unir o Sul significaria, portanto, montar uma
área comercial e financeira, de tal modo que os sulistas fariam negócios entre
si. E, quando se relacionassem com o Norte, o fariam unidos, na economia e na
política.
Ora, nesse quadro, por que não ter uma
moeda comum em que basear as relações Sul-Sul? E por que não começar pela
América do Sul, já que Lula, um líder internacional, voltou ao poder?
Parece bom, não é mesmo? Mas, me desculpem, a ideia subjacente é de jerico: achar que juntando um pobre, dois pobres, três pobres... dá um rico. Não dá, né, pessoal? Dá um “pobrão”. E bem desestruturado.
Considere a América do Sul. Chile, Colômbia e Brasil são
razoavelmente estruturados, pelos padrões locais, claro. A inflação esperada
para este ano nesses países varia de 6% (Brasil) até 12% (Chile e Colômbia).
Acrescente ao bolo a Venezuela, inflação de 360%, e a Argentina, 100%,
duvidosos. Juntando todos eles numa mesma área monetária, o que você acha: a
relativa estabilidade monetária de Brasil, Chile e Colômbia se transmitiria
para Venezuela e Argentina ou a moeda podre destes últimos contaminaria as
outras três? O regime de metas de inflação, com banco central independente,
funciona no Brasil e no Chile. Um BC do Sul teria controle sobre o sistema
monetário de Maduro e dos peronistas?
Brasil, Chile e Colômbia têm reservas
internacionais em dólares suficientes para financiar suas contas externas.
Argentina e Venezuela são ultradevedoras e caloteiras no mercado internacional.
Você acha razoável que as reservas saudáveis daquele trio tapem os buracos da
dupla?
Há pontos em comum entre os sul-americanos:
todos são basicamente exportadores de commodities e importadores de produtos
industrializados e tecnologia. Vendem para quem, importam de quem? Norte
e China.
Opa! China! — alguém diria. A China está no Sul geopolítico, confronta os EUA
no cenário global, logo, é companheira.
Outra ideia de jerico.
A China, por sua história, sua ação recente
e sua vocação, é imperialista. Não pretende se unir ao Sul para confrontar o
Norte, almeja ser potência dominante em toda parte, inclusive no espaço
sideral.
Além dessas diferenças todas, há vários
casos de fracasso em tentativas de união entre países do Sul. Mercosul, por exemplo.
Nos documentos oficiais, é uma união aduaneira. Significa que, para uma empresa
brasileira vender seus produtos na Argentina, seria a mesma coisa que vender
por aqui. Abrir uma loja em São Cristóvão seria como abrir outra em Mar del
Plata.
Vai tentar.
Moeda única? Pergunte aos exportadores
brasileiros se topam receber em pesos argentinos, bolívares venezuelanos. Não,
né? Por que aceitariam o sur (os “suros”, “surs”...)?
O euro resultou de 50 anos de construção
econômica e política. Se não é democracia, não entra na União Europeia. Se não
tem BC independente, também não. As regras de controle das contas públicas são
comuns e obrigatórias. Ainda assim, o euro quase fracassou na crise financeira
de 2011. O rigor fiscal de uma Alemanha foi abalado pela bagunça de gastos da
Grécia. Embora ferido, o euro escapou, porque havia dinheiro e boas lideranças
para resgatar os que haviam caído em desgraça.
Na verdade, o objetivo não confessado
do PT ao
sugerir o sur é reassumir a liderança na América Latina. Da última vez em que
isso aconteceu, houve uma instituição que de fato ultrapassou fronteiras e
fincou negócios por toda parte, a Odebrecht.
2 comentários:
Juntando um Carlos Alberto Sardenberg, dois Sarda, três Cacá... não dá um analista econômico que presta, né, pessoal? Dá só um “bla bla bla a soldo”. E bem gagá.
Como não consegue confrontar os argumentos, parte para o ataque ad hominem. Lamentável!
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