sábado, 10 de dezembro de 2022

Carlos Alberto Sardenberg - Países pobres, uni-vos! Para continuar na pobreza

O Globo

Moeda única? Pergunte aos exportadores brasileiros se topam receber em pesos argentinos, bolívares venezuelanos

A proposta de criação de uma moeda comum para os países da América do Sul — o sur — é derivada de uma tese mais ampla, a diplomacia Sul-Sul, cuja base é a seguinte: o Norte rico e desenvolvido — basicamente Estados Unidos e União Europeia/Inglaterra — exerce dominação econômica e política sobre o Sul emergente e pobre. Logo, controla as finanças e o comércio — via dólar — e as políticas internacionais.

Como escapar disso? Unindo o Sul contra o Norte. Tem aí, claro, o antiamericanismo que molda o pensamento de esquerda, especialmente na América Latina. Unir o Sul significaria, portanto, montar uma área comercial e financeira, de tal modo que os sulistas fariam negócios entre si. E, quando se relacionassem com o Norte, o fariam unidos, na economia e na política.

Ora, nesse quadro, por que não ter uma moeda comum em que basear as relações Sul-Sul? E por que não começar pela América do Sul, já que Lula, um líder internacional, voltou ao poder?

Parece bom, não é mesmo? Mas, me desculpem, a ideia subjacente é de jerico: achar que juntando um pobre, dois pobres, três pobres... dá um rico. Não dá, né, pessoal? Dá um “pobrão”. E bem desestruturado.

Considere a América do Sul. ChileColômbia e Brasil são razoavelmente estruturados, pelos padrões locais, claro. A inflação esperada para este ano nesses países varia de 6% (Brasil) até 12% (Chile e Colômbia). Acrescente ao bolo a Venezuela, inflação de 360%, e a Argentina, 100%, duvidosos. Juntando todos eles numa mesma área monetária, o que você acha: a relativa estabilidade monetária de Brasil, Chile e Colômbia se transmitiria para Venezuela e Argentina ou a moeda podre destes últimos contaminaria as outras três? O regime de metas de inflação, com banco central independente, funciona no Brasil e no Chile. Um BC do Sul teria controle sobre o sistema monetário de Maduro e dos peronistas?

Brasil, Chile e Colômbia têm reservas internacionais em dólares suficientes para financiar suas contas externas. Argentina e Venezuela são ultradevedoras e caloteiras no mercado internacional. Você acha razoável que as reservas saudáveis daquele trio tapem os buracos da dupla?

Há pontos em comum entre os sul-americanos: todos são basicamente exportadores de commodities e importadores de produtos industrializados e tecnologia. Vendem para quem, importam de quem? Norte e China. Opa! China! — alguém diria. A China está no Sul geopolítico, confronta os EUA no cenário global, logo, é companheira.

Outra ideia de jerico.

A China, por sua história, sua ação recente e sua vocação, é imperialista. Não pretende se unir ao Sul para confrontar o Norte, almeja ser potência dominante em toda parte, inclusive no espaço sideral.

Além dessas diferenças todas, há vários casos de fracasso em tentativas de união entre países do Sul. Mercosul, por exemplo. Nos documentos oficiais, é uma união aduaneira. Significa que, para uma empresa brasileira vender seus produtos na Argentina, seria a mesma coisa que vender por aqui. Abrir uma loja em São Cristóvão seria como abrir outra em Mar del Plata.

Vai tentar.

Moeda única? Pergunte aos exportadores brasileiros se topam receber em pesos argentinos, bolívares venezuelanos. Não, né? Por que aceitariam o sur (os “suros”, “surs”...)?

O euro resultou de 50 anos de construção econômica e política. Se não é democracia, não entra na União Europeia. Se não tem BC independente, também não. As regras de controle das contas públicas são comuns e obrigatórias. Ainda assim, o euro quase fracassou na crise financeira de 2011. O rigor fiscal de uma Alemanha foi abalado pela bagunça de gastos da Grécia. Embora ferido, o euro escapou, porque havia dinheiro e boas lideranças para resgatar os que haviam caído em desgraça.

Na verdade, o objetivo não confessado do PT ao sugerir o sur é reassumir a liderança na América Latina. Da última vez em que isso aconteceu, houve uma instituição que de fato ultrapassou fronteiras e fincou negócios por toda parte, a Odebrecht.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Juntando um Carlos Alberto Sardenberg, dois Sarda, três Cacá... não dá um analista econômico que presta, né, pessoal? Dá só um “bla bla bla a soldo”. E bem gagá.

Jorge Mariano disse...

Como não consegue confrontar os argumentos, parte para o ataque ad hominem. Lamentável!