O Globo
Covardemente escudado sob uma pretensa
neutralidade, o presidente se dedica a tomar partido da Rússia, o país agressor
Em junho de 1940, o então ditador Getúlio
Vargas disse, num discurso:
— Marchamos para um futuro diverso de
quanto conhecíamos em matéria de organização econômica, social ou política e
sentimos que os velhos sistemas e fórmulas antiquadas entram em declínio. Não
é, porém, como pretendem os pessimistas e os conservadores empedernidos, o fim
da civilização, mas o início, tumultuoso e fecundo, de uma nova era.
Essa “nova era” saudada por Vargas era nada
mais, nada menos que o nazifascismo.
Corta para 2023. O presidente democraticamente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, não esconde sua simpatia pelos regimes autoritários da Rússia e da China. Até aí, nada de novo. Lula nunca deixou de demonstrar apreço por governos corruptos e/ou pouco democráticos: a Venezuela de Chávez e Maduro, a Cuba dos irmãos Castro, a Nicarágua de Ortega, a Líbia de Kadafi, o Irã de Ahmadinejad, a Guiné Equatorial de Obiang, a Angola de José Eduardo dos Santos.
Mas, depois de todos os absurdos e
indignidades ditos e cometidos por Bolsonaro, Lula parece se sentir livre para
exceder sua cota habitual de ataques ao bom senso. E não tem feito outra coisa
senão dilapidar o patrimônio político adquirido com a vitória na eleição de
2022. Ora atribui a violência a jogos de videogame — sendo contestado pelo
próprio filho e tratado como autor de uma “análise rasa, ultrapassada e que não
reflete a realidade” por um de seus apoiadores incondicionais. Ora, em ataque
preconceituoso e capacitista, declara que “temos quase 30 milhões de pessoas
com problema de desequilíbrio de parafuso”, também a pretexto do massacre na
creche de Blumenau.
Nenhuma de suas opiniões, entretanto, é tão
rasa, ultrapassada, dissonante da realidade e reveladora de “desequilíbrio de
parafuso” quanto as que tem emitido sobre a guerra na
Ucrânia.
Covardemente escudado sob uma pretensa
neutralidade, Lula se dedica a tomar partido da Rússia, o país agressor,
responsável por crimes como os ataques a um hospital e a um teatro onde se
refugiavam crianças, em Mariupol, e a execução em massa de civis, em Bucha.
Supera Bolsonaro, que também apoiava os russos, mas fingindo pragmatismo, já
que o Brasil dependeria do fornecimento de insumos agrícolas. Lula apoia a
Rússia por questões ideológicas — um “antiestadunidentismo” de DCE, que o faz
ver imperialismo em Biden, mas não em Putin.
Lula mente ao dizer que “a Europa e os EUA
continuam contribuindo para a continuação desta guerra” ou que “Zelensky não
toma a iniciativa de parar”. É um tipo de mentira que difere da habitual
mitomania do presidente, aquela que já o levou a dizer que não havia viv’alma
mais honesta do que ele (?) ou que assiste aos jogos do campeonato chinês de
futebol, que passam na televisão do Brasil (!).
Se a Ucrânia parar
de lutar, deixará de existir. Se os Estados
Unidos e a Europa não ajudarem a Ucrânia, poderemos estar —
como em 1940 — diante de uma nova era. Tumultuada e nem um pouco fecunda.
Vargas só se afastou de Hitler e Mussolini
depois de muita grana dos Estados Unidos e de muita pressão das ruas. O ponto
de virada foi o torpedeamento do navio Baependi, na costa de Sergipe. Ali
morreram 270 brasileiros e os sonhos fascistas do ditador.
O que será preciso acontecer para recolocar
Lula nos eixos?
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