quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Adriana Fernandes - Retaliação da crise Haddad-Lira

O Estado de S. Paulo

Projeto prorroga a desoneração da folha até 2027 e tem custo estimado em torno de R$ 9 bilhões

A votação do projeto que prorroga a desoneração da folha de pagamento para os 17 setores que mais empregam no País deve marcar um divisor de águas no apoio do comando da Câmara à pauta econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

No dia seguinte ao “sincericídio” de Haddad criticando as líderes da Casa, o presidente da Câmara, Arthur Lira, antecipou que o projeto, que já passou pelo Senado, pode ser votado na próxima semana.

Caso ocorra como sinalizado por Lira, o timing dessa votação é certeiro. Se a prorrogação for aprovada antes do envio do projeto do Orçamento de 2024 ao Congresso, no próximo dia 31 de agosto, o governo não pode simplesmente “esquecer” de colocar esse custo nas contas do ano que vem.

Não é pouca coisa. Se aprovado do jeito que saiu do Senado, o custo pode chegar a R$ 20 bilhões. O projeto prorroga a desoneração até 31 de dezembro de 2027 com total estimado em torno de R$ 9 bilhões.

Além disso, a proposta permite um desconto de 20% para 8% na contribuição previdenciária de municípios com até 142,6 mil habitantes com impacto calculado de R$ 9 bilhões, que pode chegar a R$ 11 bilhões pelos cálculos da Confederação Nacional dos Municípios.

O detalhe é que prefeitos voltaram a lotar Brasília nesta semana. Líderes municipalistas estiveram com Lira antes de ele marcar para semana que vem a votação. Haddad não quer deixar para discutir o tema com reforma da tributação da renda, projeto que não tem mais data para chegar ao Congresso. Em outras palavras, queria empurrar com a barriga.

Os empresários dos setores beneficiados não querem esperar e há meses se mobilizam no Congresso. A votação da reforma tributária foi um alerta. Ao dizer que a Câmara tem muito poder e não pode humilhar o Senado e o Executivo, Haddad verbalizou o que pensava, tomando também as dores do Senado, razão de maior descontentamento.

A crise deu a Lira e seus aliados a justificativa que de precisavam para começar uma nova fase das prioridades da agenda econômica na Câmara após a aprovação do arcabouço fiscal.

Sai de campo a “pauta País” de Haddad (PEC da Transição, arcabouço e reforma tributária) e começa outro jogo.

A resistência de Lira ao projeto da tributação de fundos offshore (no exterior) e fundos exclusivos, estopim das desavenças, é só um aperitivo. A crise com a fala de Haddad é um pretexto que chegou na hora certa. O projeto que alonga a desoneração da folha por mais quatro anos e a retirada ou não das tributação de offshore são o primeiro teste para Haddad conseguir recuperar a relação com a Câmara. •

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Haddad não falou nada demais.