O Globo
O incêndio no bioma tem diversas razões,
todas ligadas ao desmatamento e à conversão de áreas para a agricultura e
pecuária
"O Pantanal está secando. Literalmente secando”, diz o engenheiro florestal e ambientalista Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. São várias as razões, todas ligadas ao desmatamento e à conversão de áreas para a agricultura e pecuária. Estamos longe do período em que geralmente há incêndio, o normal é que seja lá para agosto ou setembro. Por que está batendo recorde de focos de calor antes da época? Porque este ano não teve cheia. O regime de águas no bioma das águas está mudando. Isso está conectado com o que acontece em outros biomas.
O MapBiomas monitora tudo o que ocorre em
todos os biomas brasileiros, e tem um banco de dados que recua até 1985. Está
preparando um relatório sobre a superfície das águas, que deve ser divulgado
hoje, com a informação de que a cobertura de água no bioma está 61% abaixo da
média histórica. O que está destruindo o Pantanal é a união explosiva de três
eventos predatórios:
—A corrente de água que vem da Amazônia,
os chamados rios voadores, está diminuindo por causa do desmatamento na região.
Outro problema é que no planalto, no entorno do Pantanal, muitas áreas estão
sendo convertidas em pastagem ou em campos de soja. E isso aumentou muito o
assoreamento da Bacia do Paraguai, porque está vindo muito sedimento. Tanto que
o Pantanal está
ficando mais raso. E tem um terceiro problema que é a destruição do pasto
natural para ser substituído pelo pasto plantado — diz Tasso.
O desmatamento da Amazônia faz chover menos
no Pantanal. A destruição do Cerrado, no entorno do Pantanal, pela pecuária e
para a produção de soja, afeta os rios da Bacia do Alto Paraguai. O pasto do
bioma, que tem um ritmo natural, é retirado para dar lugar ao capim plantado
exótico, que tem outro regime totalmente diferente. É assim que o país está
destruindo o Pantanal.
— O pasto no Pantanal nativo alaga e depois
desalaga, por isso os bois se moviam tanto, no tradicional pastoreio em
caravanas — explica.
O engenheiro agrônomo Eduardo Reis Rosa,
coordenador do bioma Pantanal no MapBiomas, explica que a especulação
imobiliária tem gerado essa troca do pasto nativo pelo pasto plantado com capim
exótico.
—O cara vai lá e compra uma propriedade com
vegetação natural. Desmata, ganha dinheiro com o desmatamento. Coloca uma
pastagem degradada, exótica, mal manejada. Depois vende a propriedade por
quatro vezes mais porque a área é declarada como produtiva. Então, ele vai para
outra área de vegetação nativa para fazer o mesmo — diz Rosa.
Todo esse desmatamento, essa destruição da
vegetação nativa própria de área alagada, e substituição por capim plantado não
é ilegal. Nessa região, os proprietários têm autorização para desmatar 80% da
área, segundo Rosa.
No planalto do entorno há cidades que são
campeãs de desmatamento, como Rondonópolis, área agrícola forte, ou Cuiabá e
Campo Grande, que são outra pressão contra o bioma. O que os especialistas
explicam é que toda a Bacia do Alto Paraguai está sofrendo os efeitos do
desmatamento.
O governo reuniu ontem a Sala da Situação, na
Casa Civil, com 19 ministérios, para saber como agir. O
governador do Mato Grosso do Sul decretou emergência nos 24 municípios afetados
pela estiagem. Neste mês de junho, o número de queimadas está batendo
recorde e existem 627 mil hectares destruídos pelo fogo. A região de Corumbá
está ardendo há vinte dias. O dramático é tudo acontecer, nesse nível de
gravidade, sem ter entrado ainda na temporada de secas.
Tudo está conectado, o que acontece no
Cerrado e na Amazônia seca o Pantanal.
Mas há mais ligação entre áreas do Brasil do que se imagina.
— Essa falta de água explica muito a chuva no
Rio Grande do Sul. A seca e o calor na Região Sudeste fizeram com que a chuva
ficasse aprisionada no Sul. Tem mais água vindo do Sul porque o oceano está
mais quente do que nunca, e, com isso, evapora mais água. Aí tem mais água na
atmosfera e ela não consegue vir para os outros estados, Paraná, Santa
Catarina, São Paulo, Minas Gerais, sul da Bahia. Ao invés de chover nesses
estados, choveu tudo no Rio Grande do Sul — explicou Tasso.
A proteção ambiental tem que ser em todos os
biomas, porque o efeito de um sobre o outro mostra que eles são
interdependentes. É uma só natureza. Ela não tem fronteiras.
3 comentários:
Excelente coluna! Realmente não há ilegalidades na maior parte dos 3 fatores apontados pela autora, é apenas o AGRONEGÓCIO se expandindo e fazendo o QUE SEMPRE FEZ: destruir nossos ambientes naturais! Será que querem acabar com a "galinha dos ovos de ouro" do Zander Navarro?
Perfeito.
Arrasou na explicação!
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