sexta-feira, 25 de outubro de 2024

José de Souza Martins - A crise da esquerda e a ameaça autoritária

Valor Econômico

A direita mobiliza vítimas de marginalização política porque os partidos democratas têm dificuldade de reconhecer o que é política numa sociedade atrasada

A eleição, em 2002, de um presidente da República pelo PT e sua reeleição, quatro anos, depois, além da eleição e reeleição de sua sucessora, não representou uma inclinação do eleitorado para a esquerda. Apenas robusteceu a inclinação brasileira para a direita com que esta reagiu e se apoderou do poder. O que era difuso e não tinha nome, pela mediação da esquerda reconheceu-se como direita. Definiu uma identidade, encontrou um líder que personificasse sua confusão e seu ódio acumulado. Tornou-o objeto de idolatria e sujeição. Bolsonaro não é apenas personagem eleitoral.

A questão é sociologicamente complicada. Foi tratada por Theodor Adorno e sua equipe em célebre e bem cuidado estudo científico realizado na Universidade da Califórnia. Em 1950, essa equipe publicou “The Authoritarian Personality”. O grupo foi motivado, dentre outras, pela hipótese de que o que acontecera na Alemanha poderia ter seus fatores e causas também em outros países, como os EUA. Ou como aqui.

No entanto, não surgiu em nossas universidades um movimento de estudo científico e multidisciplinar do que ingenuamente era subestimado, coisa de gente politicamente atrasada. Gente cujas atitudes políticas dependem de conhecimento antropológico, para que se lhe compreenda o reacionarismo. Que se tornou ativa ameaça às instituições e aos direitos políticos do povo brasileiro.

O neodireitismo daqui se orienta no sentido de banir da cena política todos os que não perfilham convicções excludentes dos diferentes, bloqueadoras da diversidade social e de consciência. Não surgiu propriamente um partido nazista explícito, disfarçado que está em siglas partidárias, em episódios e em personagens explicitamente direitistas. Cumprem funções próprias do direitismo radical nas ações de demolição das instituições e do significativo legado democrático que, não obstante, temos.

Os focos de aglutinação provisória da difusa propensão ao direitismo e ao autoritarismo orgânicos, inconscientemente, aguardavam a definição de um cenário de poder que lhes permitisse expressar às claras e com o nome de direita suas inclinações. O caminho da ascensão política da direita não tem sido aqui o de uma busca democrática, mas de uma construção antidemocrática.

Na linha da pesquisa de Adorno e colaboradores, pode-se dizer que, no caso brasileiro, nunca tivemos majoritariamente uma propensão para a esquerda. Apenas o “quase lá” episódico.

Falta-nos maturidade social e cultural para compreender o que as convicções de esquerda significam como expressão de necessidades sociais radicais. As que só podem ser resolvidas com transformações sociais e políticas. Só que aqui, a conexão entre as necessidades e a consciência política que as expressa foi perdida. Nossa esquerda atua no marco político de modelos obsoletos, de outras sociedades, de que a nossa é historicamente muito diferente.

Nosso atraso político deve muito às funções políticas dos agrupamentos não políticos, como as igrejas evangélicas, claramente identificadas com valores imobilistas e reacionários. São expressões da personalidade autoritária embutida nas carências ideológicas de nossa população, carência de meios apropriados para dizer politicamente o que sente.

A direita anômala entre nós atrai, recruta e mobiliza vítimas de marginalização política porque os partidos democratas têm dificuldade de reconhecer o que é política numa sociedade atrasada como a nossa.

A direita originada do atraso reage à exclusão, excluindo. É o que explica seu ódio aos diferentes e às diferenças, que entendem ser coisas do demônio e da subversão do que deveria ser o conformismo do ser humano.

A excludência não é, pois, característica sociológica apenas da direita. A esquerda também se tornou uma tendência ideológica fechada e excludente, não raro intolerante. O PT carrega esse estigma. O que nele fragilizou a importância do pensamento crítico como referência de atualização social constante de sua política.

A esquerda desatualizada quanto às questões sociais, que pleiteia votos nesta eleição, está numa relação de desencontro com a realidade do país após quase um quarto de século de protagonismo petista na política brasileira. É tradição da esquerda pressupor que o esquerdismo é politicamente superior ao restante e que a sociedade tende naturalmente a favorecê-lo ao longo da história.

Esquece que a sociedade é uma sociedade de contradições, de opostas expressões de consciência, de diferentes possibilidades sociais e políticas. Que o teoricamente possível, para se tornar social e politicamente real, depende sociologicamente da poesia de uma práxis de transformação social.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

A esquerda mostrou a sua incompetência e o seu viés autoritário aqui e no mundo todo , que foi exacerbado na pandemia , o povo está dando um não ao modelo de governo Corrupto e inconsequente da esquerda e é um movimento crescente e que não tem volta
O que parecia impossível há um mês está se tornando a realidade cada vez mais palpável , a vitória do Trump , para desespero da esquerda americana
Estão tentando de tudo pra impedir que o ex-presidente volte a governar os Estados Unidos tentaram matar ele três vezes agora estão acusando de um monte de coisa , estão desesperados
O Trump vem aí