Folha de S. Paulo
Falta de terras-raras chinesas poderia parar
montadoras americanas e pioraram crise entre os dois países
Desde maio, fábricas de autopeças e veículos
americanas dizem ao governo deles e a jornais que estão à beira de interromper
a produção por falta
de terras-raras, 17 elementos químicos importantes para a produção de peças
e aparelhos eletrônicos e elétricos e muito mais. Europeus também se queixam da
escassez.
No final de maio, Donald Trump foi à sua rede social dizer que os chineses barravam exportações de terras-raras e, assim, descumpriam a trégua de Genebra. Nessa cidade suíça, em 12 de maio, chineses e americanos haviam acertado a suspensão de 90 dias na guerra comercial, a fim de negociar acordo maior.
A trégua foi para o vinagre por causa das
terras-raras e das queixas chinesas sobre proibição
de exportação de chips avançados, entre outras sanções americanas. Nesta
semana, China e EUA combinaram um recomeço de negociações. Segundo a agência
Reuters, os chineses teriam começado a liberar exportações de terras-raras.
Fabricantes americanos cogitaram até produzir na China, onde teriam acesso a
esses elementos.
Como é fácil perceber, terras-raras e outros
minerais críticos são relevantes na geopolítica e na geoeconomia. Entre esses
minerais estão lítio,
vanádio, cobalto, níquel, platina, nióbio etc. São essenciais para a transição
energética e para a guerra.
As terras-raras não são raras, mas a extração
e o processamento desses elementos não são simples; a instalação de um sistema
de produção leva de cinco a dez anos. São essenciais para celulares, TVs,
computadores, turbinas eólicas, aparelhos de imagem da medicina, baterias,
eletrônica de veículos, aviões de combate, drones, mísseis, LEDs, lasers,
iluminação, na produção de chips etc. São usadas em ímãs,
dos quais cerca de 94% são feitos na China.
A China produziu 70% das terras-raras do
mundo em 2024, talvez processe 90% —importa parte de sua produção, por vezes em
troca de investimentos de infraestrutura em países exportadores pobres e
problemáticos. Cerca de 70% das importações americanas de terras-raras vêm da
China.
Em si mesmo, não é negócio de valor alto. A
importação americana foi de US$ 170 milhões em 2024, troco para uma economia
que importa mais de US$ 3 trilhões por ano em bens (os dados são de compilação
do Serviço Geológico dos EUA, USGS). Mas as terras-raras são como vitaminas
para organismos —a escassez dessas pequenas quantidades pode causar danos
sérios.
A China investiu para se tornar dominante
nesses mercados. Desde 2024, baixou regulamentação estrita de produção e
exportação. Com a guerra
comercial de Trump e restrições de exportações americanas de
tecnologia avançada (de Joe Biden, inclusive),
o caldo engrossou.
Depois da China, o Brasil tem as maiores
reservas de terras-raras do mundo. Em 2024, os chineses produziram 270 mil
toneladas; o Brasil, 20 toneladas (isso, 20 mil quilos). A produção deve
aumentar para 5.000 toneladas a partir de 2026, com uma mina em Goiás. Além do
mais, o Brasil tem a maior reserva mundial de nióbio (quase
tudo, aliás), entre as dez maiores de lítio etc.
Até a exploração é dificultada por problemas
regulatórios, para começar. O Brasil consegue se atrasar em coisas que vão do
registro de patentes até a urgentes leilões de petróleo e energia elétrica, por
incúria, falta de pessoal no governo e descasos com planos de médio prazo e
eficiência.
Esta é uma introdução de almanaque escolar ao
assunto, que vai dar pano para manga.
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