domingo, 8 de junho de 2025

O apagão logístico dos Correios – Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Os Correios passam por rápido processo de sucateamento patrimonial e operacional. Seu último balanço acusou prejuízo líquido de R$ 1,7 bilhão apenas no primeiro trimestre deste ano e patrimônio negativo de R$ 6,1 bilhões. É o maior rombo entre as estatais federais.

Seus dirigentes acionaram a velha maquininha de lenga-lengas para tentar explicar um desastre que não vem de anteontem. Põem a culpa na “taxação da blusinhas”, o imposto de importação de pequenas encomendas de até US$ 50. E ainda se queixam da queda brutal na entrega de correspondências, produzida pela mudança de hábitos: ninguém mais manda cartas nem despacha telegramas pelo correio; prefere usar o e-mail ou, então, o WhatsApp. Até mesmo a remessa de boletos é feita digitalmente. Estamos diante de uma reviravolta estrutural desse segmento que deveria ter empurrado os Correios para a modernidade – e não para um apagão patrimonial e logístico.

Não só perdem a competição com o setor privado. Seus dirigentes mostram incapacidade para competir, porque pilotam uma estrutura pesada, velha e cansada. Seus serviços de Sedex levam tempo demais para chegar a seu destino. Há alguns dias, por falta de condições de segurança, a Agência Nacional de Aviação Civil chegou a suspender por alguns dias a decolagem dos aviões dos Correios.

O Sindicato dos Trabalhadores da Empresa de Correios Telégrafos e Similares de São Paulo denuncia o colapso operacional e financeiro da empresa. E aponta fatos: falta de pagamento às transportadoras e aos fornecedores de combustíveis; toneladas e toneladas de encomendas paradas por incapacidade de entrega; sobrecarga de trabalho, atraso no repasse de contribuições aos planos de previdência complementar e mau gerenciamento dos convênios de saúde.

A empresa anunciou um plano para reduzir R$ 1,5 bilhão em despesas neste 2025 e pôs em marcha um Plano de Demissão Voluntária que já teve perto de 4 mil adesões entre seus 85 mil empregados. E planos de investir, até o final de 2026, R$ 1,6 bilhão mais garantias de que as correções seguirão. O banco dos Brics, comandando por Dilma Rousseff, avançou com empréstimo de R$ 3,8 bilhões. Mas o estrago é maior do que esses remendos.

Apenas no segmento de entrega de encomendas, o Mercado Livre acaba de anunciar investimentos de R$ 34 bilhões no Brasil para expansão de sua rede de logística apenas neste ano. E o Mercado Livre não é a única a comer mercado dos Correios: há também a Amazon, a Shopee, DHL, Loggi, a FedEx e outras.

A solução, já apontada há tantos anos, é a privatização – para que os Correios possam se capitalizar e modernizar a ampla rede de coleta e distribuição. O Tesouro, maior acionista, não está em condições de injetar capital novo nessa lata furada.

Como o governo Lula repete o mantra de que a privatização é inadmissível, o sucateamento dos Correios só pode continuar inexorável.

 

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