Folha de S. Paulo
Livro esmiúça história da prisão e posterior
soltura de ditador chileno Augusto Pinochet em passagem por Londres
Philippe Sands é um autor extraordinário. Ele
pega temas áridos e potencialmente aborrecidos, como o direito internacional,
os ilustra com histórias cujo fim todos já sabemos, como a prisão e posterior
soltura do ditador chileno Augusto Pinochet em passagem por Londres, e consegue
transformar isso num livro que lemos com a mesma avidez com que se devoram
novelas de detetives.
Em parte, Sands consegue esse efeito porque de fato faz um trabalho de detetive. Ele vai fundo em suas pesquisas, descobrindo personagens secundários que vão revelando novas facetas, às vezes inesperadas, da trama principal. E ele confere gravidade humana e densidade dramática a esses personagens.
Sands também sempre põe um nazista no
meio da história.
"38 Londres Street", o terceiro
livro de Sands que recomendo aqui, segue à risca esse roteiro. O título é o
endereço em Santiago da sede do Partido Socialista, que foi transformada num
centro de tortura após o golpe de 1973.
O grande tema discutido é a jurisdição
universal em casos de direitos humanos, com base na qual a Espanha queria
julgar Pinochet pelos muitos assassinatos e torturas cometidos na ditadura que
ele comandou.
Pinochet estava no Reino Unido, que, pelo
pedido da Espanha, foi obrigado a deter o general enquanto decidia se iria ou
não extraditá-lo. Sands advogou marginalmente no caso, de modo que acompanhou
de perto tanto os argumentos jurídicos como as reviravoltas políticas da
história, que acabaram liberando Pinochet para voltar ao Chile sob
a vaga promessa de que ele seria julgado em seu país. Não foi.
O nazista da vez é Walther Rauff, o oficial
da SS que desenvolveu as câmaras de gás móveis, montadas em caminhões. Rauff
conseguiu fugir para o Equador, onde se tornou amigo de Pinochet, e depois para
o Chile, onde assessorou o regime na montagem do aparelho repressivo. Há também
um paralelo jurídico, já que Rauff também enfrentou pedidos de extradição do
Chile para outros países, que foram negados pelo Judiciário pinochetista.
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