domingo, 8 de junho de 2025

Crimes na rua Londres - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro esmiúça história da prisão e posterior soltura de ditador chileno Augusto Pinochet em passagem por Londres

Philippe Sands é um autor extraordinário. Ele pega temas áridos e potencialmente aborrecidos, como o direito internacional, os ilustra com histórias cujo fim todos já sabemos, como a prisão e posterior soltura do ditador chileno Augusto Pinochet em passagem por Londres, e consegue transformar isso num livro que lemos com a mesma avidez com que se devoram novelas de detetives.

Em parte, Sands consegue esse efeito porque de fato faz um trabalho de detetive. Ele vai fundo em suas pesquisas, descobrindo personagens secundários que vão revelando novas facetas, às vezes inesperadas, da trama principal. E ele confere gravidade humana e densidade dramática a esses personagens.

Sands também sempre põe um nazista no meio da história.

"38 Londres Street", o terceiro livro de Sands que recomendo aqui, segue à risca esse roteiro. O título é o endereço em Santiago da sede do Partido Socialista, que foi transformada num centro de tortura após o golpe de 1973.

O grande tema discutido é a jurisdição universal em casos de direitos humanos, com base na qual a Espanha queria julgar Pinochet pelos muitos assassinatos e torturas cometidos na ditadura que ele comandou.

Pinochet estava no Reino Unido, que, pelo pedido da Espanha, foi obrigado a deter o general enquanto decidia se iria ou não extraditá-lo. Sands advogou marginalmente no caso, de modo que acompanhou de perto tanto os argumentos jurídicos como as reviravoltas políticas da história, que acabaram liberando Pinochet para voltar ao Chile sob a vaga promessa de que ele seria julgado em seu país. Não foi.

O nazista da vez é Walther Rauff, o oficial da SS que desenvolveu as câmaras de gás móveis, montadas em caminhões. Rauff conseguiu fugir para o Equador, onde se tornou amigo de Pinochet, e depois para o Chile, onde assessorou o regime na montagem do aparelho repressivo. Há também um paralelo jurídico, já que Rauff também enfrentou pedidos de extradição do Chile para outros países, que foram negados pelo Judiciário pinochetista.

 

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