domingo, 8 de junho de 2025

O domínio sobre os privilégios do poder – Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Musk acreditou que todos os seus interesses seriam atendidos pelo governo

Os bastidores do rompimento entre Donald Trump e Elon Musk são material para estudo de caso das armadilhas por trás do desmonte do Estado e da deslegitimação das instituições. As críticas de Musk agravam os temores acerca da política econômica de Trump e dividem o eleitorado conservador.

Antes de entregar a chave de ouro da Casa Branca a Musk, na sua despedida do governo, dia 30, Trump recebeu um dossiê que mostrava que Jared Isaacson, indicado pelo dono da Space-X para administrar a Nasa, foi doador de campanhas democratas.

Tanto Trump quanto Musk fizeram doações para campanhas democratas no passado. Mesmo assim, Trump chamou Musk e disse que não ia nomear Isaacson, bilionário amigo dele, cuja empresa Draken faz serviços de treinamento para as forças armadas americanas.

A Nasa contrata a Space-X, que concorre com outras empresas de exploração espacial, como a Blue Origin, de Jeff Bezos. Essa foi a gota d’água para Musk, que já tinha sofrido outras frustrações.

O pacote fiscal de Trump revoga os subsídios para os carros elétricos da Tesla, também de Musk. O empresário queria ainda que outra empresa sua, a Starlink, substituísse a Verizon na conexão para o controle de tráfego aéreo. A Agência Federal de Aviação relutou, por causa do conflito de interesses.

MONOPÓLIO DO PRIVILÉGIO.

Trump tem usado a presidência para beneficiar seus negócios. O Trump International Hotel, em Washington, tornou-se ponto de encontro de lobistas e políticos. Ele converteu seu balneário em Mar-a-Lago em residência extraoficial de descanso, o que multiplicou o valor do título de sócio.

Sua primeira viagem internacional planejada foi para a Arábia Saudita, onde está em desenvolvimento a Trump Tower de Jeddah; para o Catar, que encomendou o Trump International Golf Club Simaisma, e fez aporte de US$ 1,5 bilhão ao fundo de investimentos Affinity Partners, de seu genro Jared Kushner.

O filho do enviado especial de Trump ao Oriente Médio e à Rússia, Steve Witkoff, também tem múltiplos negócios na Península Arábica. Zach Witkoff é cofundador da World Liberty Financial, que, em 2024, lançou a criptomoeda stablecoin. A família Trump tem 60% da empresa; os Witkoff, cerca de 12,5%. Todos acompanharam Trump na viagem.

Musk, que doou US$ 250 milhões à campanha de Trump, e colocou sua imagem e o X a serviço da reeleição, acreditou que todos os seus interesses seriam atendidos pelo governo. Trump mostrou que tem o monopólio desse privilégio.

 

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