sexta-feira, 13 de junho de 2025

Pacote fiscal e o risco político – Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Os atritos políticos ao redor do pacote fiscal vêm crescendo há dias e prometem ainda mais acirramento, dada a forte oposição do Congresso às medidas adotadas pelo ministro Fernando Haddad.

Até agora, o governo Lula se recusou a passar o facão nas despesas públicas porque teme perder voto popular. E é um comportamento que se repete. Se tiver, por exemplo, de rever o critério de correção do salário mínimo, que atualmente leva em conta a inflação do ano anterior e o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes, para cortar despesas com aposentadorias e com o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o presidente Lula imagina que enfrentaria reação negativa dos mais de 40 milhões de beneficiários do INSS e dos quase 6 milhões de beneficiários do BPC.

A lenga-lenga com esse pacote, a insistência em basear o ajuste no aumento de impostos, mais a recusa do governo a reduzir despesas, já começam a produzir enorme desaprovação entre as classes médias e os outros segmentos formadores de opinião, como os índices de avaliação do governo já vêm demonstrando.

Lula e Haddad dão mostras de má avaliação de risco. Não parecem se dar conta de que os riscos políticos gerados com os aumentos sistemáticos da carga tributária começam a ficar mais altos do que o custo político que fosse provocado por medidas de austeridade fiscal.

Em outros termos, do ponto de vista dos interesses eleitoreiros do presidente Lula, começa a ficar difícil conferir o que é pior: se fazer o que tem de ser feito em relação aos cortes de despesas ou se continuar a enfrentar as resistências políticas do Congresso e da sociedade a esse pacote de renitente aumento de impostos.

Uma das características do jogo político, em qualquer país e em qualquer época, é a de que a demonstração de fragilidade de um ator político provoca o aumento de ataques dos seus oponentes com o objetivo de desestabilizá-lo de uma vez. Alguns desses documentários da TV mostram que, se um grupo de focas estiver mal acomodado sobre um bloco de gelo, o grupo de orcas que o rodeia passa a agitar as águas ou a tentar revirar o bloco para caçar as focas. É o que se vê hoje no Brasil. Aumentaram tanto os sinais de fragilidade da jangada do presidente Lula que a oposição passou a redobrar suas forças para inviabilizar seu governo e sua reeleição.

Do ponto de vista do funcionamento da economia, já há um punhado de incertezas que provém dos desequilíbrios da atividade global, como o tarifaço de Trump, a desorganização dos fluxos de comércio mundial, a forte oscilação do valor das moedas e as guerras em curso.

E, na economia brasileira, há as incertezas provenientes do agravamento das contas públicas e da dívida, da inflação que roda acima do teto da meta e dos juros que têm de permanecer lá em cima por muito tempo.

A esse cenário de incertezas, somam-se as novas incertezas causadas pela perda de força política do governo Lula.

 

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