quinta-feira, 23 de julho de 2009

Arias dá ultimato para volta de Zelaya ao poder

DEU EM O GLOBO

Mediador pede retorno do presidente deposto a Honduras e avisa que é sua última proposta

SAN JOSÉ. O Nobel da Paz e presidente da Costa Rica, Oscar Arias, apresentou ontem uma nova proposta para solucionar a crise política de Honduras — sua última como mediador do conflito — que inclui a restituição do presidente deposto Manuel Zelaya ao poder em dois dias e a anistia aos golpistas que o derrubaram. Apesar de ter, até ontem de tarde, ameaçado insistentemente Zelaya de prisão caso o presidente, exilado na Nicarágua, voltasse ao país, o governo interino mostrou à noite o primeiro sinal de abertura ao dizer que enviaria a proposta ao Congresso e ao Judiciário.

— Vamos enviar o rascunho do acordo a nossas autoridades para que o diálogo continue — disse Mauricio Villeda, delegado do governo interino.

A Suprema Corte e o Congresso estiveram por trás do golpe militar que derrubou Zelaya e da indicação do presidente interino Roberto Micheletti. Até agora, as instituições resistiram à pressão da comunidade internacional para reverter o golpe.

— O relógio está batendo, e contra o povo hondurenho — alertou Arias.

Cerca de 500 partidários de Zelaya voltaram às ruas ontem exigindo seu retorno ao país.

Mas o destaque do dia ficou por conta da manifestação em favor dos golpistas, que reuniu dezenas de milhares de simpatizantes, aumentando a tensão.

Após se reunir ontem em Brasília com o chanceler de Israel, Avigdor Lieberman, o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim fez um apelo pela volta de Zelaya e disse que os golpistas precisam entender o clamor da comunidade internacional, que, segundo ele, nunca mostrou tanta unanimidade.

Brasil e EUA divergem sobre mediação Mas, nos bastidores, Brasil e EUA divergem sobre a forma como a negociação está sendo conduzida por Arias. Isso configura o primeiro arranhão nas relações entre os dois países desde a posse de Barack Obama.

Enquanto a Casa Branca dá sinais de apoio a um governo de coalizão entre Zelaya e os autores do golpe, o governo brasileiro acredita que essa saída seria um prêmio aos golpistas e poderia abrir um precedente na região, pondo em risco a democracia.

Essa preocupação será levada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reunião de presidentes do Mercosul, que começa hoje em Assunção com chefes de Estado de outros países sul-americanos.

Colaborou Eliane Oliveira

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