segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Esnobado pelo PT, Hélio Costa negocia com Aécio

Raquel Ulhôa e Cristiano Romero, de Brasília
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), têm intensificado as conversas sobre uma eventual coligação entre seus partidos nas eleições estaduais de 2010, à medida que vai ficando mais difícil a composição local entre PMDB e PT. "Em Minas, o caminho natural do PMDB seria compor com o PT e outros partidos da base aliada do governo Lula. Mas casamento se faz quando os dois querem. Não adianta eu ficar mandando beijinho para o PT e sempre ter alguém virando a cara para mim", diz o ministro Hélio Costa.

O que o PMDB almeja é uma aliança em torno da candidatura de Costa a governador, sem a contrapartida do apoio dos pemedebistas à provável candidatura do governador José Serra (SP) à Presidência da República, caso seja ele o escolhido pelo PSDB para a disputa.

Mesmo sem aliança com o PT, Costa mantém apoio à candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a presidente. Se o acordo entre PSDB e PMDB prosperar, caberá a Aécio construir um palanque alternativo para Serra. A hipótese mais forte para o governador mineiro, caso ele perca para Serra o posto de candidato do PSDB a presidente, é a disputa ao Senado.

Na avaliação de pemedebistas, Aécio poderia, como candidato a senador, fazer campanha pelo Estado com Serra, independentemente de sua aliança com o ministro. "As campanhas de Minas são feitas assim: eu era candidato ao Senado (2002) e apoiava a candidatura do presidente Lula. Mas o candidato a governador na época (Newton Cardoso), apoiava outro. Eu fazia o meu palanque de senador e nele o candidato a presidente era o Lula", disse. Cardoso, na verdade, não apoiou nenhum concorrente ao Palácio do Planalto.

Uma aliança com Costa poderia ser eleitoralmente conveniente a Aécio. O vice-governador, Antonio Anastasia (PSDB), seu candidato ao governo, aparece nas pesquisas com cerca de 5% das intenções de voto, enquanto Costa tem uma média de 40%. A eleição do governador ao Senado é considerada absolutamente tranquila, mas o ideal seria também deixar o governo tendo eleito o sucessor.

Costa acredita que, com apoio do governador, ganharia no primeiro turno "disparado". No entanto, prevê dificuldades se concorrer sem alianças, num cenário em que o PT e Aécio lançarem candidatos.

O secretário-geral do PSDB, deputado Rodrigo de Castro (MG), aliado de Aécio, afirma que as conversas com o PMDB existem, mas estão longe da fase de definições de candidaturas.

"Temos muitos pontos de convergência, mas ninguém ofereceu cabeça-de-chapa e vaga de senador. Tanto um quanto o outro pode encabeçar", diz Castro. Segundo ele, nenhuma definição de aliança local poderá acontecer em Minas antes da decisão do PSDB sobre o candidato a presidente. "O PSDB estadual tem o desejo de ver Aécio na Presidência."

O próprio Hélio Costa reconhece que seu apoio a Dilma na sucessão presidencial só seria colocado em xeque se Aécio fosse candidato a presidente. "Aí todo mineiro teria que voltar para a prancheta, discutir tudo de novo. O máximo que eu poderia fazer, como ministro do governo, é ficar neutro na história", afirma.

As negociações entre Costa e Aécio com vistas a 2010 avançam por causa da recusa de setores do PT estadual - à frente o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel - em abrir mão de uma candidatura própria a governador. Embora o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento e Combate à Fome) lidere uma ala do PT disposta a negociar com o PMDB local, as resistências permanecem insanáveis.

"A conversa prospera mais com Aécio do que com o PT, à medida que uma ala do PT não quer conversar", confirma Costa. "Da minha parte, tem muita chance sim (de aliança com os tucanos). Não tenho a menor dificuldade em fazer essa aliança."

O presidente Lula tem manifestado ao ministro a intenção de pôr fim às divergências entre Patrus e Pimentel e trabalhar por uma coligação do PT com o PMDB em Minas. Patrus admite a aliança e tem bom relacionamento com Costa, mas Pimentel se opõe. Pemedebistas avaliam que Lula não está conseguindo pacificar o PT - ou não está se empenhando para isso.

Costa e seus aliados alertam que uma composição entre as duas siglas em Minas Gerais teria forte influência na decisão que o PMDB tomará em convenção nacional, em junho de 2010, sobre aliar-se ou não ao PT na chapa presidencial. Além de Minas, PT e PMDB enfrentam dificuldades de relacionamento em vários outros Estados, como Bahia, Pará, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.

O PSDB aproveita para avançar sobre os pemedebistas desses Estados. A conversa está adiantada no Rio Grande do Sul, onde há uma chance de a governadora tucana Yeda Crusius desistir de disputar a reeleição. Nessa hipótese, o PSDB apoiaria o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB).

Em São Paulo, Pernambuco e Santa Catarina a aliança do PMDB já é com o PSDB. O ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, presidente do PMDB estadual, tem sido o principal articulador do apoio do partido à candidatura Serra. Na semana passada esteve em Brasília para atacar a tentativa do presidente nacional licenciado do PMDB, Michel Temer (SP), presidente da Câmara dos Deputados, de antecipar o acordo nacional com o PT para 2010.

Quércia argumenta que até a realização da convenção nacional, a tendência atual pró-Dilma poderá ser revertida, diante das dificuldades entre PT e PMDB em vários Estados. O ex-governador paulista esteve com Aécio para defender a aliança com o PMDB no Estado.

É pelo rol de problemas à aliança em torno de Dilma que aliados de Costa alertam para a importância de Lula interferir no Estado. Ao contrário de outros Estados, Minas ainda não é visto um caso perdido para a aproximação entre PT e PMDB, assim como o Rio de Janeiro - onde o prefeito petista de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, lançou-se candidato a governador, contra o atual governador, Sérgio Cabral (PMDB), aliado do presidente. Mas, se Lula não conseguir unir PT e PMDB nem nesses dois locais, a aliança nacional pode correr risco.

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