terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Irã intensifica cerco a dissidentes

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Pelo menos dez líderes importantes do movimento reformista são presos em blitze em partidos e organizações

AP, AFP E REUTERS, TEERÃ

Um dia depois de milhares de manifestantes entrarem em choque com a polícia de Teerã e de outras cidades iranianas, o governo ampliou o cerco a líderes opositores. Forças de segurança oficiais fizeram ontem diversas buscas em partidos e organizações reformistas e prenderam ao menos dez figuras destacadas da oposição iraniana. Entre eles, estão dois assessores do ex-presidente Mohamad Khatami e três do líder opositor Mir Hossein Mousavi - derrotado pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad nas eleições de junho -, além do ex-ministro de Relações Exteriores, Ibrahim Yazdi, líder do Movimento pela Libertação do Irã.

"Chegou o momento de colocar à disposição da Justiça os chefes desse movimento hipócrita e conspiratório - principalmente Mousavi", disse o parlamentar Ali Shahrokhi, chefe da Comissão de Justiça do Congresso, à agência de notícias oficial Irna.

Segundo informações divulgadas ontem por sites de oposição, o número de mortos nos confrontos de domingo chegou a dez. A emissora estatal Press-TV fala em oito mortos citando o Conselho Supremo de Segurança Nacional. De acordo com o Ministério da Saúde, 60 pessoas teriam ficado feridas.

Essa foi a mais violenta jornada de protestos no Irã desde junho, quando os opositores saíram às ruas para denunciar fraude na votação em que Ahmadinejad conquistou o segundo mandato. Na ocasião, 36 pessoas morreram segundo o governo e 72 segundo a oposição.

No domingo, 300 pessoas foram presas em Teerã. Também ocorreram protestos e confrontos entre manifestantes e a polícia em Isfahan, Mashhad, Shiraz, Arak, Tabriz, Najafabad, Babol, Ardebil e Orumieh.

De acordo com a oposição, a polícia abriu fogo contra os manifestantes depois de tentar dispersá-los com tiros de borracha e gás lacrimogêneo. O governo nega, mas as informações sobre os confrontos não puderam ser confirmados por fontes independentes, pois desde junho a imprensa internacional está proibida de cobrir manifestações opositoras no país.

Entre os mortos está o sobrinho de Mousavi, Ali Mousavi, que recebeu um tiro quando protestava em Teerã. Ontem, a família de Mousavi afirmou que, para evitar que o funeral de Ali vire um novo ato contra Ahmadinejad, o regime confiscou o corpo dele. A Irna negou a denúncia e disse que Ali foi levado ao instituto de medicina forense para uma autópsia.

"Meios afins aos grupos conspiradores informaram que o cadáver de Ali foi roubado pelas forças de segurança oficiais, mas isso é mentira", afirmou a agência. "Seu corpo e os de outros quatro mortos em Teerã foram guardados para que se possa completar a investigação policial sobre suas mortes."

REAÇÃO INTERNACIONAL

A repressão do governo iraniano aos protestos foi criticada em diversos países. A chanceler alemã, Angela Merkel, a qualificou como "inaceitável". O presidente dos EUA, Barack Obama, fez um chamado para Teerã libertar os manifestantes "presos injustamente". A Grã-Bretanha elogiou a "grande coragem" dos opositores e a Rússia pediu "moderação" aos iranianos.

As manifestações de domingo foram organizadas para marcar o sétimo dia da morte do grão aiatolá Hossein Ali Montazeri, o mais importante clérigo dissidente do Irã, e coincidiram com o fim da festividade muçulmana xiita de Ashura. Montazeri morreu de causas naturais, aos 87 anos.

Na última semana, seu funeral e os atos em sua homenagem transformaram-se em protestos contra Ahmadinejad, intensificando as tensões entre oposição e governo no Irã.

ONDA DE PROTESTOS

Junho - Oposição acusa Ahmadinejad de fraude eleitoral; primeiras manifestações em Teerã

Julho - Protestos são os maiores desde a Revolução Islâmica de 1979; mais de 30 morrem

Agosto - Opositores presos nas manifestações são julgados

7 de dezembro - Após 3 meses,opositores voltam às ruas

21 de dezembro - Funeral do aiatolá opositor Hossein Ali Montazeri vira protesto contra o governo

27 de dezembro - Dez morrem durante protestos, entre eles o sobrinho de Mousavi

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