Senador mineiro vai hoje à tribuna fazer um duro discurso contra o PT e sairá em defesa das medidas tomadas no governo tucano de FHC
Baptista Chagas de Almeida
“Sempre que precisou fazer uma opção entre o país e o partido, o PT ficou com o PT”. É assim, armado até os dentes, que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) sobe hoje à tribuna para fazer um discurso que é não voltado para dentro do Congresso, mas para fora, para os eleitores sentirem que há espaço para a oposição. Por isso, será duro. O senador estreia na tribuna como líder da oposição, mas não pretende assumir o papel de fazer ofensas e ataques pessoais, tanto que vai reconhecer que o Brasil é hoje melhor do que era. Só que os pilares para esta situação foram plantados desde o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Aécio vai buscar na história recente da redemocratização brasileira os argumentos para sua tese principal. Lembrará que nos momentos mais decisivos, o PT esteve contra. Vai citar as expulsões dos então deputados petistas Bete Mendes e Ayrton Soares, porque votaram a favor da vitoriosa candidatura de Tancredo Neves no colégio eleitoral, que pôs fim ao ciclo do regime militar. Vai destacar que o fato se repetiu em outro momento delicado para o país, no impeachment do ex-presidente e do hoje senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL).
Na época, a hoje deputada Luíza Erundina (PSB-SP) foi expulsa porque aceitou ser ministra de Itamar Franco, quando ele assumiu a Presidência da República. Além dos fatos políticos, o senador mineiro pretende citar outras ocasiões em que o PT preferiu jogar no time do “quanto pior, melhor”, porque já tinha lançada a candidatura de Lula à Presidência da República. Um dos exemplos é o lançamento do Plano Real, que os petistas condenaram com veemência.
Os outros são o combate à modernização da economia, as manifestações contra as privatizações, as críticas ao Proer, que, na avaliação dos tucanos, evitou uma quebradeira de bancos. E vai lembrar que Dilma Rousseff está no nono ano de mandato do PT no Palácio do Planalto e que não tem mais como alegar que é obrigada a administrar uma “herança maldita”. Pelo menos, lembra Aécio, ela não é tucana.
Contradições
Depois de passear pela história radical do PT na oposição, o senador vai destacar as contradições do partido no exercício do poder. Vai mirar a metralhadora giratória no comportamento do partido nas eleições do ano passado, quando pintaram um quadro cor de rosa para a economia brasileira. Destacará o risco da inflação sair do controle, tanto que o Banco Central já subiu as taxas de juros, e vai bater firme no risco de a indústria nacional perder competitividade.
Os gargalos para o desenvolvimento nacional são objeto da abordagem de Aécio. Ele diz que o Brasil está no fim da fila neste aspecto entre 20 outros países de perfil semelhante. Citará, por exemplo, que a energia é alvo de mais de 10 taxas e impostos, que o saneamento passa longe de boa parte dos municípios brasileiros. Além da falta de infraestrutura, vai bater forte na questão tributária, que tira a competitividade das empresas nacionais.
Com números fortes, o senador vai encerrar a sua estreia, digamos assim, na tribuna do Senado com uma agenda propositiva. Destacará que estados e municípios tinham, no fim de 2002, antes da posse de Lula na Presidência da República, 27% do bolo tributário. Hoje, a participação está reduzida a 19,4%. Aécio apresentará proposta para criar um gatilho em que, todas as vezes em que o governo federal isentar IPI e Imposto de Renda, terá que compensar estados e municípios com outros tributos.
INTERVENÇÃO NA VALE
» O senador Aécio Neves atacará também o que chama de “absurda” intervenção feita pelo governo na Vale, para a substituição de Roger Agnelli por Murilo Ferreira, apesar dos ótimos resultados da empresa nos últimos anos. É, segundo ele, uma espécie de reestatização em uma empresa que é símbolo de uma privatização bem sucedida. A intervenção nas agências reguladoras também serão alvo do tucano. Ele citará os exemplos da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que deveriam ter total independência para cumprir o papel de defesa do consumidor e estão sendo obrigadas a atender aos interesses do governo.
Participação
27% - Total do bolo tributário que cabia aos estados e municípios em 2002
19,4% - Percentual que estados e municípios recebem hoje do conjunto de impostos do país
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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