quarta-feira, 6 de abril de 2011

Oposição no megafone:: Fernando de Barros e Silva

"Oposição é parte da ação governativa." Com essa frase de antologia, Kátia Abreu tentava explicar como vai se comportar o seu novo partido, o PSD de Kassab: "Oposição não é empresa de demolição. Quem assim pensava e agia era o PT", disse a senadora pelo Tocantins (e hoje maior líder ruralista do país), em entrevista ontem ao jornal "O Estado de S. Paulo".

Estamos, pois, numa situação em que a Rainha do Gado deserta do moribundo DEM e anuncia que não lhe interessa mais confrontar abertamente o governo. Oposição, daqui em diante, só de ladinho.

À Folha, anteontem, o professor Marcos Nobre definiu o PSD como a expressão mais escancarada do que ele chama de "peemedebização" da política. A frase de Kátia Abreu corrobora sua tese: a oposição "é parte da ação governativa".

Ou seja: a oposição praticamente derreteu e grupos políticos heterogêneos buscam parasitar o Estado em busca de alguma vantagem -isso é o "peemedebismo". O problema de Dilma, diz Nobre, é o excesso de adesões num cenário econômico em que se mostra impossível administrar os interesses acomodados e os acordos assumidos na era Lula.

É nesse quadro que está prometido para hoje o discurso "de oposição" de Aécio Neves na tribuna do Senado. Dizem alguns que será algo "contundente". Só se for como homenagem tardia ao 1º de abril.

Aécio está sendo desafiado pelos serristas no Congresso a mostrar que tem estatura para liderar a oposição. Mas sabe que está diante de uma cilada e corre o risco de pregar para três gatos pingados do DEM.

Além disso, o mineiro, como o malandro da canção de Chico Buarque, costuma andar "assim de viés". Oposição frontal nunca foi a dele. Ainda mais fora de hora.

José Serra está aí para prová-lo. Há três meses, no Twitter, nos jornais, onde for, ele não faz outra coisa a não ser atacar o governo Dilma. Ninguém o leva a sério. Parece até um pouco aqueles profetas pregando o fim dos tempos na praça da Sé.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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