sexta-feira, 22 de abril de 2011

Nova sigla agrava crise na oposição

Em crise, oposição teme nova sigla

Ao lançar o PSD, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, sangra os antigos aliados e amplia encruzilhada de DEM e PSDB

Emparedada pela popularidade dos governos Lula e Dilma Rousseff, a oposição no Brasil enfrenta um momento crítico na sua crise de identidade. Além de tentar apaziguar as brigas internas, DEM e PSDB precisam agora estancar a perda de nomes para a sigla lançada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o Partido Social Democrático (PSD).

A nova legenda é a expressão mais forte dos desafios dos adversários do PT. Ao definir o partido, Kassab faz manobras para tentar explicar que não será governista nem oposicionista. Tentando manter uma neutralidade ideológica, o prefeito quer se descolar de uma oposição em baixa sem parecer um fisiologista em busca de proximidade com o Planalto. Nesta toada, está tirando governadores, senadores e deputados do DEM (sua legenda até agora) e do PSDB.

Em São Paulo, maior trincheira da oposição, Kassab está provocando terremotos. Nesta semana, quase metade da bancada tucana na Câmara de Vereadores anunciou estar deixando a sigla, descontente com brigas internas. A maioria deve seguir para o PSD.

Na avaliação do cientista político Valeriano Mendes, da Unicamp, o PSDB está paralisado por brigas internas entre o senador Aécio Neves (MG) e o ex-governador José Serra, que também troca empurrões com o governador Geraldo Alckmin (SP). Com isso, a hegemonia do PT colocou a legenda numa sinuca.

– O PSDB está totalmente espremido. Não tem mobilidade, não tem movimento, não tem capacidade de articulação quase nenhuma. Está quase reduzido só à ligação com o DEM, que está se esfacelando, e com o PPS, que é um micropartido – diz Valeriano.

Na tentativa de dar uma explicação para o desempenho do PSDB, José Aníbal (SP), secretário do governo Alckmin, critica o projeto petista:

– No plano nacional, essa cooptação que o PT faz, esse projeto de poder não é democrático. É hegemonista, autocrático, corruptor. Lula é um falastrão, continua manipulando.

Aníbal prefere minimizar a saída de vereadores do PSDB e diz tratar-se de um “problema isolado”, parte de uma briga interna pelo comando da sigla:

– Maior ou menor, o que importa é a sintonia que temos com a opinião pública. No Estado de São Paulo, faz cinco eleições que o PSDB ganha.

Para Valeriano, porém, o próprio surgimento do PSD indica que um setor da oposição não se sente mais capaz de fazer política num ambiente “tão rarefeito assim”.

E a fidelidade?

- A regra de fidelidade partidária foi aprovada pela Justiça Eleitoral em 2007. A partir daí, o mandato passou a pertencer aos partidos.

- Kassab e outros políticos, porém, pretendem escapar da regra e mudar de partido com base num detalhe: é possível trocar de sigla em caso de criação de um novo partido.

- Ainda assim, as siglas prejudicadas vão tentar impedir a transferência de nomes para o PSD.

- O PPS questiona a norma que permite a mudança em caso de criação de nova sigla. Para o partido, a brecha fere o princípio da fidelidade ao permitir que novas agremiações sejam criadas apenas como manobra para trocas baseadas em interesses de ocasião.

FONTE: ZERO HORA (RS)

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