Governador desafia Planalto e pede ajuda a rivais para evitar derrota que pode ressuscitar a oposição no Rio
Peemedebista dividirá palanque com possíveis adversários em 2014; políticos protestam contra veto a discursos
Bernardo Mello Franco
SÃO PAULO - Há um ano, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), parecia destinado a navegar em eterna calmaria.
Ostentava prestígio com o governo Lula e se reelegeu no primeiro turno, com apoio de 16 partidos e dois terços dos votos.
Agora, enfrenta a ameaça da redivisão dos royalties do petróleo, que pode ressuscitar a oposição fluminense e comprometer seu futuro político. Ele promete reunir hoje 100 mil pessoas em passeata para tentar emparedar a presidente Dilma Rousseff.
Cabral diz que o texto aprovado no Senado, com apoio declarado da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), tira R$ 1,5 bilhão do Estado e R$ 1,8 bilhão dos municípios do Rio já em 2012.
Sem o trânsito que exibia no Planalto, ele terá que dividir o palanque hoje com três políticos que cobiçam sua cadeira em 2014: os senadores Lindbergh Farias (PT) e Marcelo Crivella (PRB) e o deputado Anthony Garotinho (PR).
O governo decretou ponto facultativo e anunciou passagens grátis em trens e metrô para tentar encher o ato, mas avisou ontem que nenhum político poderá discursar.
O veto irritou os adversários, que em público prometem apoio na luta pelo dinheiro, mas estão preparados para apontar o peemedebista como o único culpado se a derrota do Estado se confirmar.
"Cabral pode entrar para a história como o governador que entregou as riquezas do Rio", afirma Garotinho.
"Com uma derrota, seu governo ficará inviabilizado. O Rio vai quebrar. Embaralha tudo em 2014", diz Crivella.
Lindbergh faz juras de apoio, mas traça um cenário sombrio no caso de Rio e Espírito Santo não conseguirem reverter a perda quando o tema for votado na Câmara.
"O estrago será enorme. Vai fechar prefeitura, posto de saúde, tudo o que você possa imaginar", diz o senador petista, que em 2010 foi obrigado por Lula a abortar sua candidatura a governador para ajudar Cabral.
Em seu último mês no poder, o ex-presidente evocou a amizade com o peemedebista para vetar outro projeto de redistribuição dos royalties aprovado no Congresso.
Os Estados não produtores se rearticularam e conseguiram a simpatia de Dilma. A mudança esfriou a relação entre o Guanabara e o Planalto, que já não era a mesma.
Cabral apostou no confronto. Chegou a dizer, ao jornal "O Globo", que Dilma sofrerá uma "tragédia eleitoral" se não impedir o prejuízo do Rio.
A presidente não gostou do tom de ameaça. Na última ida a Brasília, o governador não conseguiu um encontro separado para tratar do assunto.
Uma semana antes, ele foi recebido e disse que Dilma "levou um susto" ao ouvir quanto o Rio perderia.
ALTERNATIVAS
Colaboradores de Cabral já admitem que a hipótese mais provável é perder na Câmara. Neste caso, restará torcer por um novo veto presidencial ou recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Criticado pelo modo como conduziu o debate, o governador corre o risco de se isolar e ver naufragar o sonho da Vice-Presidência ou mesmo uma volta ao Senado em 2014.
A perda dos royalties comprometeria sua imagem, já desgastada nos últimos meses com a greve dos bombeiros e a revelação de relações próximas com empresários a quem deu isenções fiscais.
Cotado para sua sucessão, o vice-governador Luiz Fernando Pezão diz que os rivais não devem se animar.
"Eles representam o Rio na Câmara e no Senado. Se perdermos, a derrota não será só do governador. Estamos todos no mesmo barco."
Aliados afirmam que Cabral ainda não trabalha com a hipótese de anunciar rompimento com Dilma. Sua assessoria disse que ele não daria entrevista, pedida pela Folha desde o último dia 24.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
Um comentário:
A questão nao é o cabral. O governo federal nessa nova divisao aceitou perder muito pouco, enquanto do Rio tiraram grande parte da receita. Isso significa menos capacidade desses governos investirem.
Quando o RJ terá um interior de economia forte como SP se com essa atitude, de uma canetada só, cidades do interior ficaram bem mais pobres? As pessoas precisam deixar de fazer politicagem e pensar grande.
Esses recursos eram importantes para a economia de diversas cidades do Estado. Não adinta vir criticar o Cabral, porque isso poderia ter acontecido em qualquer gestão. Ele ainda ta segurando isso sem criar uma briga e piorar as coisas.
Se fosse o Garotinho, os royalties já teriam sido tirados faz tempo. da primeira vez Cabral ainda conseguiu que o Lula vetasse essa lei. Com Garotinho, o lula teria assinado sorrindo. hehe
Triste ver isso ser tratado com tanta politicagem pela internet. As pessoas pensam muito pequeno e querem mais é que tudo piore. Cabral tem conduzido isso de forma a nao fazer populismo e acho que está certo.
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