Chefe de gabinete do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), Claudio Monteiro pediu demissão ontem, após a divulgação de conversas em que integrantes do esquema de Carlinhos Cachoeira discutem o pagamento de propina para ele e para Marcelo Lopes, ex-assessor da Casa Militar, em troca de nomeações para o Serviço de Limpeza Urbana
Chefe de gabinete de Agnelo pede demissão após revelação de grampo
Membros do grupo de Cachoeira falam em dinheiro para agradecer nomeação
BRASÍLIA. Cláudio Monteiro, chefe de gabinete do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, pediu demissão ontem à noite, depois que gravações da Polícia Federal mostraram integrantes da organização do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, conversando sobre pagamento de propina e concessão de um telefone especial a ele. Em um dos diálogos interceptados pela Polícia Federal, o grupo promete dinheiro também para Marcelo Lopes, ex-assessor especial da Casa Militar do DF, como revelou ontem o "Jornal Nacional", da TV Globo. Os diálogos estão no inquérito sobre a exploração ilegal de caça-níqueis, jogo do bicho e fraudes em licitações entre outros crimes imputados a Cachoeira.
Entre as conversas gravadas pela Polícia Federal com autorização judicial está um diálogo entre Cláudio Abreu, ex-diretor regional da construtora Delta, e o sargento da reserva da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá, dois dos principais integrantes da organização de Cachoeira.
"Dá o dinheiro pro cara, meu irmão"
Em janeiro do ano passado, Abreu ligou para Dadá para conversar sobre nomeação para o comando do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), no começo do governo Agnelo. A Delta estava interessada em ampliar os contratos com o SLU.
- O Marcelão tá aqui comigo, entendeu? Veio agora de uma reunião com o Cláudio Monteiro. Ele tava falando o seguinte: que é ideal você dar um presente pro cara antes. A nomeação vai sair na terça-feira no Diário Oficial - diz Dadá.
Marcelão seria Marcelo Lopes, que até o início do escândalo era assessor da Casa Militar. Impaciente, Abreu, um dos executivos mais importantes da sétima maior construtora do país, manda Dadá resumir logo a conversa.
- O que que é pra dar pra ele? - pergunta.
Dadá não tem dúvidas sobre o que está em jogo.
- Dá o dinheiro pro cara, meu irmão - sugere.
Dadá é apontado pela Polícia Federal como um dos prepostos de Cachoeira encarregado de cooptar agentes públicos para a organização do bicheiro. Abreu ouve a sugestão e faz uma oferta.
- Faz o seguinte: vamos dar 20 mil pra ele e 5 mil por mês. Pronto. Vinte mil prá ele agora e 5 mil por mês. Entendeu ? - diz.
Dadá reafirma que o "Marcelão" permanece ali e que os dois vão conversar sobre o assunto. Cláudio Monteiro, um dos mais influentes assessores de Agnelo, seria o responsável pela indicação de João Monteiro para o comando do SLU, área cobiçada pela Delta. Cláudio Monteiro confirmou contatos com Dadá, mas negou que tenha recebido dinheiro ou mesmo participado da indicação de dirigentes do SLU.
- Não recebi e nem providenciei a nomeação. Eu não tenho nada, absolutamente nada com isso - disse Monteiro ao Jornal Nacional.
Em outra conversa interceptada pela PF, Dadá e Cachoeira falam em entregar rádios para Monteiro e Lopes. A organização acreditava que rádios Nextel seriam à prova de grampo. O grupo criou o "Clube Nextel", que reunia cúmplices de Cachoeira que só falavam entre si com o rádio habilitado nos Estados Unidos.
FONTE: O GLOBO
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