A CPI transforma-se num escândalo de imoralidade política e rejeição a princípios do Estado de Direito
A CPI do Cachoeira foi rápida: já está no fundo da desmoralização. Ela é o escândalo. E por ser CPI mista do Senado e da Câmara, os seus conluios desviantes projetam a desmoralização sobre um dos três pilares institucionais do Estado democrático: o próprio Congresso. A CPI volta-se contra a democracia.
Tal situação não requer explicações. Percebê-la está ao alcance de todos. O que ainda se justifica é completar a percepção, com indicações de que grande parte da desmoralização da CPI é deliberada. E imposta pela maioria formada por PT e PMDB, coadjuvados pelos integrantes chinfrins de sua aliança. Ou melhor, sociedade.
Uma dessas indicações pode ser a omissão, durante dez horas de interrogatório, de qualquer referência a determinada conduta de Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal.
Se a compra por R$ 400 mil de uma casa avaliada em milhões (já foi dito que de três a cinco) tem sido um dos pontos considerados, por que não foi feita nem sequer uma pergunta relacionada, de uma vez só, a milhões ilegítimos e a Agnelo?
Primeiro a receber de Durval Barbosa as imagens gravadas do então governador José Roberto Arruda e vários do seu grupo, enfurnando blocos de dinheiro de corrupção, Agnelo Queiroz também enfurnou o material (nem candidato era ainda). Qual foi o objetivo da omissão? E o que aconteceu com seu patrimônio naquela época, ou um pouco mais tarde? Se teve ou se não uma de suas alterações, é significativo do mesmo modo.
Nesse quesito, aliás, também a Polícia Federal está em dívida. Era de sua obrigação, constatada a disparidade entre o valor declarado da compra e as avaliações do imóvel, examinar a eventual variação patrimonial do vendedor. Se de R$ 400 mil ou de movimentos que sugeririam recebimento maior. Ou por fora.
Ainda no início desse caso Cachoeira, comecei a insistir, e o fiz várias vezes, na afirmação de que investigar a Delta Construções e seu "dono" Fernando Cavendish era a chave para muitos esclarecimentos, relativos a Carlos Cachoeira e a muito mais. Desculpem, mas volto a fazê-lo.
Agora, para dizer que é a própria importância das intimidades da Delta que faz o comando da CPI e sua maioria fugirem de aprovar tais convocações. É o conluio dos beneficiários, diretos e indiretos, com os guardiães das aparências governamentais e partidárias. Elas se entendem: tropa de cheque, como diz o deputado Miro Teixeira, e tropa de choque.
A CPI transforma-se em um escândalo de imoralidade política e de rejeição aos princípios do Estado de Direito democrático.
Os campeões
Aí estão 50 anos do segundo título brasileiro de campeão do mundo e de injustiça que o tempo não corrigiu.
Na semifinal, o inocente Garrincha deu um poderoso pontapé no traseiro do chileno Rojas. A bola estava longe, e com ela o juiz. Mas o bandeirinha estava perto, viu e alertou o árbitro. Garrincha, com dois gols no jogo, estrela considerada decisiva no time, foi expulso. Julgado na véspera da decisão com a Tcheco-Eslováquia, para grande surpresa foi absolvido. Graças ao depoimento, ainda mais surpreendente, do bandeirinha testemunha, o uruguaio Estéban Marino.
O comando da seleção entrou em campo que não era o de futebol. Estéban Marino disse, sobre seu depoimento, que "tirou um peso da consciência". Mas pôs na consciência e em outros lugares as provas antecipadas de um futuro despreocupado.
A imprensa brasileira, omitindo o fato na época e na história da Copa, fez e manteve a injustiça com Estéban Marino. Afinal, ele também foi campeão do mundo, ali, com os brasileiros.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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