Seja na reunião ministerial, seja nas sugestões que a presidente Dilma Rousseff enviou ao Congresso para compor o plebiscito sobre reforma política, a diferença entre o que se diz e o que se faz daria para circular a terra. Ou chegar ao mais distante dos planetas. Primeiro, vejamos as propostas do plebiscito, apresentadas ontem aos congressistas, que em grande parte já estão no parlamento. Basta votar.
Os parlamentares têm plena consciência de que a ideia de plebiscito foi uma forma inteligente de a presidente dividir o desgaste provocado pelas manifestações (depois ainda dizem que ela não entende nada de política). Mas agora, quer eles gostem ou não, o limão está posto, ainda que as propostas sejam um bode colocado na sala para servir de cortina de fumaça às mazelas da saúde e da educação.
“Limão”, porque os partidos simplesmente temem que, ao tratar, por exemplo, do voto distrital, o eleitor termine optando pelo distrital puro, aquele em que se elege o mais votado no distrito. Esse sistema tirará do Congresso deputados com voto de opinião, pulverizado em vários distritos dentro de um mesmo estado. E fará chegar ao Congresso o chefe político local, em muitos casos, “o coronel”, no velho sentido da palavra. Quanto aos demais pontos, é bem capaz, por exemplo, de o público rejeitar o financiamento público e aprovar o privado, que permite o toma lá dá cá entre financiadores e eleitos.
Diante desse dilema, a discussão é como transformar esse limão em limonada, de forma a não deixar que Dilma, daqui a alguns meses, vá para a tevê dizer que fez a parte dela, e os congressistas não fizeram a deles. Uma das formas a que os políticos devem recorrer para sair desse imbróglio é dispensar o plebiscito para assuntos como o fim do voto secreto e da suplência de senador. Também se mencionava ontem o recall sobre o mandato presidencial — para permitir ao eleitor dispensar o governante que, no meio da mandato, não cumprir a contento o que prometeu ao eleitor.
A onda do plebiscito não deve parar por aí. A impressão que se tem é que Dilma pode ter aberto a porteira para a convocação de plebiscitos sobre vários temas. Ontem, já havia quem levantasse a necessidade de plebiscito sobre a redução do número de ministérios, sobre o trem-bala Rio-São Paulo ou metrôs para as grandes cidades, além da aplicação de 10% do Orçamento da União na educação. Ou seja, uma série de propostas que estão por aí, represadas, e hoje dependem basicamente do Poder Executivo.
Enquanto isso, no Planalto...
Com propostas de plebiscitos sobre ações diretas do Poder Executivo, a intenção dos congressistas é tentar jogar uma parte do limão no colo da presidente Dilma Rousseff. Ela, aliás, em nenhum momento da reunião ministerial deixou transparecer a vontade de trocar um ministro ou empreender uma reforma administrativa no governo. Tampouco cobrou cortes de gastos nos ministérios, o que vem agora por parte do PMDB, que controla a Câmara e o Senado — em nota publicada na noite de ontem, o partido encampou a tese da oposição, que cobra uma redução ministerial.
A ordem da presidente é continuar com seu périplo pelo país, lançando projetos. E para isso, ela precisará do PMDB. Ontem mesmo, telefonou ao líder do partido no Senado, Eunício Oliveira, pedindo que inclua o Plano Safra para o Semiárido na Medida Provisória 610, que trata de ações de contenção dos efeitos da seca. Dilma lançará o plano ainda esta semana, no Nordeste, região hoje dominada pelo PSB, que tem quatro dos nove governadores. O PT tem dois: Jaques Wagner, da Bahia, e Marcelo Déda, de Sergipe.
Por falar em PSB...
A reunião que o partido fez ontem no Recife deixou à maioria a impressão de que Lula, depois da pesquisa, aceitou a candidatura de Eduardo Campos. Melhor ganhar com ele lá na frente do que perder com apenas um candidato. Mas essa é outra história.
Fonte: Correio Braziliense
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