Além das intimidações nas redes sociais, o presidente do STF, que anunciou sua aposentadoria para o fim de junho, recebeu ligações em casa e no gabinete com frases como “sua hora está chegando”. Apesar do interesse em ter Joaquim Barbosa em seus quadros, partidos descartaram filiação em curto prazo.
Ameaças telefônicas
• Além dos ataques nas redes sociais, Barbosa recebeu intimidações por telefone até em casa
Cristiane Jungblut, Fernanda Krakovics e Jailton carvalho – O Globo
As ameaças contra o ministro Joaquim Barbosa, que precipitaram seu pedido de aposentadoria do Supremo Tribunal Federal (STF), conforme revelado ontem pelo GLOBO, não se restringiram às redes sociais e à manifestação de petistas na saída de um bar em Brasília. Ao jornal “A Tarde”, o chefe de gabinete da presidência do STF, diplomata Sílvio Albuquerque Silva, afirmou que ameaças de morte eram feitas em ligações para o gabinete e até para a residência do ministro.
— Havia ameaças de morte, com telefonemas para o gabinete e a casa dele, com frases covardes como: “Sua hora está chegando” — relatou o diplomata, que ressaltou a exaustão física do ministro:
— Ele chegou ao seu limite. Não aguentava mais. Cansaço físico e consciência do dever cumprido.
Mas sinto-o aliviado pela decisão.
Em nota, a Secretaria de Comunicação do STF informou que as razões da aposentadoria de Barbosa são de “foro íntimo” e destacou que o chefe de gabinete da Presidência do STF não deu entrevista sobre o tema para nenhum veículo de comunicação.
O jornal A Tarde, porém, confirmou a informação, dada ao colunista Adilson Borges.
A Polícia Federal já concluiu um dos inquéritos sobre ameaças de morte contra Joaquim Barbosa, mas por requisição do Ministério Público Federal teve que reabrir o caso e aprofundar a apuração. Há duas semanas, o procurador da República Francisco Guilherme pediu que a polícia verifique a identidade e os vínculos partidários de Sérvolo de Oliveira e Silva, apontado como um dos autores das ameaças contra Barbosa. Sérvolo foi identificado como secretário de Organização do PT do Rio Grande do Norte. Mas, para o MP, a polícia teria se baseado em informações da imprensa, o que não poderia se configurar como prova em um eventual processo judicial. O inquérito foi aberto em fevereiro, a partir de uma reclamação do presidente do STF, e não tem prazo para ser relatado em caráter definitivo.
Por lei, o MP pode pedir o aprofundamento das investigações quantas vezes achar necessário.
Cardozo nega pleitear o cargo
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse ontem que foi surpreendido pela decisão do presidente do STF de se aposentar em junho. Barbosa poderia ficar no tribunal até outubro de 2024, quando completa 70 anos, idade em que os ministros são obrigados a deixar a toga.
— Eu não imaginava que o presidente Joaquim fosse sair. Decisão pessoal dele. Tem que ser respeitada — afirmou Cardozo.
Indagado se ele mesmo poderia ser indicado pela presidente Dilma Rousseff para substituir Barbosa, o ministro da Justiça negou.
— Eu não pleiteio isso. Não é a minha intenção.
Deputados e senadores se mostraram preocupados ontem com a informação de que Barbosa antecipou sua aposentadoria depois de ter sofrido ameaças decorrentes do julgamento do mensalão. O líder do PSDB na Câmara, deputado Antonio Imbassahy (BA), disse que Barbosa tem motivos para se preocupar:
— O ministro Barbosa deve ter todos os motivos dele. Ele viu o caso de Celso Daniel (então prefeito de Santo André e que foi assassinado), ele não pode deixar de ter motivo de preocupação. Afinal, foi ele o responsável por ter colocado os líderes da quadrilha do PT na Papuda — disse o líder tucano. O senador Pedro Taques (PDT-MT) lamentou a aposentadoria prematura de Barbosa:
— No Brasil, hoje, existe uma quadrilha digital para difamar pessoas, ameaçar pessoas. O ministro Joaquim Barbosa deve ter avaliado isso. Eu, como senador e como cidadão, sinto muito sua aposentadoria porque ele tinha muito a contribuir.
Sobre a possibilidade de Barbosa se engajar já neste ano em alguma campanha eleitoral, lideranças políticas de oposição descartam essa hipótese.
Integrantes do PSDB e do PSB afirmam que o ministro não arriscaria pôr em xeque a isenção do julgamento do mensalão.
— Não tem nenhum trabalho nesse sentido. Um homem como ele, que tem a personalidade que tem, ninguém vai conduzi-lo a um apoiamento de A ou B. Ele tem convicções nítidas — afirmou o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy. Vice-presidente do PSB, Roberto Amaral ressaltou que Joaquim ainda não se aposentou e que, até lá, ele segue sendo presidente do Supremo
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