terça-feira, 8 de julho de 2014

As razões de Eduardo para investir no DF

Naira Trindade, André Shalders – Correio Braziliense

Depois de escolher a comunidade do Sol Nascente, em Ceilândia, como ponto de partida da campanha no último domingo, o candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB) permaneceu no Planalto Central ontem com a candidata a vice Marina Silva. Em meio à poeira das ruas de terra vermelha de Águas Lindas de Goiás (GO), Campos aproveitou para alfinetar a ausência do corpo a corpo da candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT). Para o presidenciável, "chegou a hora de Dilma sair de trás dos marqueteiros e vir às ruas dizer o que fez em quatro anos, porque a gente procura e não vê", criticou. Apesar de não ser um grande colégio eleitoral, Eduardo investe no Distrito Federal para se beneficiar tanto do palanque montado pelo candidato do PSB ao governo local, o senador Rodrigo Rollemberg, quanto da popularidade de Marina, que, em 2010, foi a postulante à Presidência mais votada na capital, com 41% dos votos válidos. O Distrito Federal tem pouco menos de 2 milhões de votantes.

Pelas ruas de Águas Lindas, Eduardo pôde confirmar o que as pesquisas mostram: seu nome ainda é desconhecido por grande parte dos eleitores. "As pesquisas dizem que só 25% da população me conhece e por isso vamos fazer campanha para mostrar nossas ideias, nossa história", afirmou. Para quem não o reconhecia, Marina Silva fazia o papel de apresentá-lo. Ao contrário dele, ela foi tratada pelo nome pelos anônimos que a encontravam na caminhada. "Nunca pensei em ver Marina ao vivo", emocionou-se a comerciante Francisca Maria de Alencar, 56 anos. Eduardo deixou Brasília no fim da tarde, em direção ao Recife. O candidato realizará atividades de campanha na capital pernambucana hoje, antes de iniciar um périplo pela Região Nordeste: amanhã irá para Fortaleza e, na quinta, ao Maranhão, onde visitará as cidades de São Luís e Bacabal. A semana se encerra com uma viagem a Natal, na sexta.

No começo da tarde, Eduardo se reuniu com os presidentes dos diretórios estaduais do PSB na sede da legenda, na Asa Norte. O encontro detalhou o andamento da campanha nos estados. "É uma reunião com os presidentes do PSB de todo o país para que eles possam compor a coordenação da campanha em seus estados, acompanhar o nosso programa e sugerir agendas", disse o presidenciável, que aproveitou para negar qualquer dificuldade na montagem dos palanques regionais. "Essa discussão já passou (...) O partido está unido e coeso em torno do nosso projeto nacional". Durante o encontro, o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, disse que a campanha de Eduardo deverá incorporar uma inovação lançada por Marina Silva em 2010: a utilização das casas de militantes como minicomitês de campanha, com as Casas de Eduardo e Marina. "É uma forma de popularizar os comitês de campanha, de termos comitês em todas as cidades do Brasil", disse.

Em pouco mais de duas horas de caminhada por Águas Lindas, Eduardo e Marina ouviram comerciantes, conversaram com moradores, fizeram fotos com crianças, visitaram salões de beleza, loja de colchões, tomaram café na padaria. "Não se pode fugir do debate, como em 2010. O Brasil clama por um novo governo, que não entregue pedaços do estado brasileiro aos partidos políticos em troca de tempo de televisão", criticou Campos. "Existem duas formas de politizar a campanha, uma é atacando os adversários e a outra é atacando os problemas que, de fato, o Brasil tem, enfrentando-os com profundidade", disse Marina. "Tem um Brasil colorido do marketing, e outro preto e branco, com lixo nas ruas, sem saúde e educação, que o marketing não mostra", acrescentou.

Primo distante
Na Avenida do Comércio, Eduardo Campos conheceu até mesmo um primo distante. Filiado ao PDT, o eletricista Ângelo Fábio Braga Arraes, 42 anos, explicou o parentesco. "O pai dele é primo do meu pai", contou o piauiense de olhos azuis e traços semelhantes ao do candidato. Mais tarde, Campos confirmou a relação. "Basta olhar para ele que você enxerga o meu avô, é meu primo mesmo", disse. Apesar do descompasso no ritmo da caminhada — Eduardo precisava esperar Marina, que andava mais devagar — o discurso dos candidatos parece mais afinado. Campos encorpou a ideia de defender a sustentabilidade e os programas sociais, e Marina completava as frases do presidenciável nos diálogos com a comunidade.

Conflitos em Minas
Após a reunião ontem em Brasília, representantes da Executiva Estadual do PSB em Minas desautorizaram as declarações do prefeito de Belo Horizonte, o socialista Márcio Lacerda. Na semana passada, Lacerda, que é aliado do presidenciável tucano Aécio Neves, chegou a emitir nota pedindo que a seção mineira do PSB reavaliasse a decisão de lançar o nome do prefeito de Juiz de Fora, Tarcísio Delgado, ao governo estadual. "Ele não faz parte da Executiva Estadual", minimizou o secretário-geral da sigla, Carlos Siqueira. Lacerda apoiará o tucano Pimenta da Veiga na corrida ao Palácio da Liberdade, em detrimento do correligionário Delgado.

41%
Percentual de votos válidos de Marina Silva na capital nas eleições de 2010

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