• Vice peemedebista não é recebido pela petista desde que apoiou Eduardo Cunha na disputa pelo comando da Câmara
• Especulação sobre impeachment ampliou isolamento de aliado e seu afastamento do centro das decisões
Natuza Nery, Andréia Sadi - Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Principal expoente do PMDB, o vice-presidente Michel Temer atingiu o nível máximo de isolamento dentro do Palácio do Planalto. Apesar de ter se colocado à disposição, Temer não é recebido por Dilma Rousseff desde que apoiou a candidatura do correligionário Eduardo Cunha (RJ) para o comando da Câmara dos Deputados.
Nas duas únicas ocasiões juntos, presidente e vice estavam acompanhados de outras pessoas em atividades estritamente institucionais.
A primeira foi na reunião ministerial, em 27 de janeiro, e a outra no encontro com Eduardo Cunha --após sua eleição na Câmara-- e com o presidente eleito do Senado e também colega de partido Renan Calheiros.
Temer nunca teve uma relação próxima com a companheira de chapa das eleições de 2010 e 2014, mas a situação se agravou neste início de segundo mandato.
Tal distanciamento foi ainda alimentado por teorias da conspiração que passaram a transitar no governo desde que o palavrão "impeachment" começou a circular nas redes sociais, muitas vezes estimulado por integrantes da oposição.
Para alguns auxiliares presidenciais, Michel Temer seria o beneficiário direto de um movimento com esse propósito, embora não haja nenhum indício de atos inconfidentes por parte do vice-presidente de Dilma.
Mesmo Eduardo Cunha, considerado pelo Palácio do Planalto como figura hostil aos interesses do governo no Congresso, já declarou publicamente não ver "espaço" para discutir uma possível saída da presidente. Pedidos de impeachment têm de passar, obrigatoriamente, pelas mãos do presidente da Câmara.
Antes de declarar apoio formal à candidatura de Cunha e Renan Calheiros, Temer tentou, sem sucesso, falar com Dilma algumas vezes.
Diante do silêncio da presidente, optou por chamar o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e outros ministros para comunicá-los da decisão. Na conversa, ninguém se opôs abertamente à ideia.
Entretanto, de lá para cá, o destino do vice-presidente foi a "geladeira" do Planalto.
A vitória de Cunha contra o petista Arlindo Chinaglia para o comando da Câmara expôs os erros de articulação do Planalto e transformou a presidente Dilma na principal derrotada.
Muitos dos votos acumulados por Cunha derivaram da rejeição que a petista tem entre congressistas.
Credenciais
Três vezes presidente da Câmara, Michel Temer nunca foi acionado para ajudar na articulação política com a Casa. Suas credenciais são sempre ignoradas mesmo nos momentos mais difíceis de Dilma no Legislativo.
Aliados do peemedebista relatam que ele tem consciência do distanciamento imposto pela cúpula do Planalto e afastam qualquer intenção de patrocinar atos de desestabilização política.
Ao contrário, auxiliares contam que ele marcou para esta segunda (23), na residência oficial do Jaburu, um jantar dos presidentes da Câmara e do Senado com o ministro Joaquim Levy (Fazenda), para costurar a aprovação das medidas do ajuste fiscal defendidas pelo governo.
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