• Ministro da Justiça nega que tenha conversado com sobre a Operação Lava Jato com o advogado da construtora UTC
Vera Rosa - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Por ordem da presidente Dilma Rousseff, ministros reagiram neste sábado a informações de que o governo estaria fazendo manobras para evitar a todo custo a delação premiada do dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, preso há três meses na Polícia Federal, em Curitiba. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, negou que tenha conversado sobre a Operação Lava Jato com o advogado da UTC, Sérgio Renault, e disse não ter poderes para impedir condenações em troca do silêncio do investigado.
Em nota divulgada à tarde, Cardozo subiu o tom em relação a declarações anteriores sobre o assunto e chamou de "mentirosa" a "versão" divulgada pela segunda vez pela revista Veja. Segundo a publicação, Cardozo se reuniu com Renault, que foi secretário de Reforma do Judiciário e é seu amigo, para pedir a ele que convencesse Pessoa a não fechar acordo de delação premiada com o Ministério Público sobre o esquema de corrupção na Petrobrás.
O ministro insiste en que o advogado da UTC esteve no Ministério da Justiça recentemente, mas somente para se encontrar com o advogado Sigmaringa Seixas, que estava lá e com quem iria almoçar. Até agora, Cardozo só admite ter conversado sobre a investigação com advogados da Odebrecht, que lhe solicitaram audiência e pediram a apuração de "vazamentos criminosos" na Lava Jato.
"É lamentável que, mais uma vez, Veja se utilize de supostas declarações de um investigado (Ricardo Pessoa), encaminhadas à revista por pessoas que se escondem no anonimato, para buscar atingir a imagem do ministro e de membros do governo federal. Uma vez identificadas, estas pessoas serão processadas civil e criminalmente", diz a nota de quatro itens, divulgada pela assessoria de Cardozo.
O governo nega interferência política para barrar um novo escândalo. Segundo a revista Veja, Pessoa quer contar à Justiça que, no ano passado, deu R$ 30 milhões que teriam sido desviados da Petrobrás para abastecer campanhas de candidatos do PT. A nota do Ministério da Justiça afirma que o titular da pasta "não dispõe de instrumentos para impedir ou negociar vantagem de qualquer natureza para que uma delação premiada não se consume" e chama a reportagem de "absurda".
"Ele (o ministro) não tem poderes para determinar o fim de uma prisão, para impedir ou mitigar uma condenação ou para efetivar qualquer medida que pudesse oferecer vantagens a um investigado em troca do seu silêncio", diz o texto.
'Nada a temer'. Já o ministro da Defesa, Jaques Wagner, chamou de "ilação" a informação de que teria recebido doações "clandestinas" da UTC nas campanhas de 2006 e 2010 ao governo da Bahia e disse não ter "nada a temer".
Wagner afirmou que todas as doações para suas campanhas "foram declaradas e as prestações de contas, aprovadas pela Justiça Eleitoral". O ministro negou que tenha recebido contribuição da UTC na disputa de 2006, quando concorreu pela primeira vez ao governo da Bahia, mas confirmou a doação da construtora na campanha pela reeleição, em 2010.
"Os recursos declarados encontram-se à disposição de qualquer cidadão para consulta no Tribunal Superior Eleitoral", argumentou Wagner.
Um auxiliar de Pessoa disse à Veja, sob condição de anonimato, que "Ricardo pode destruir Wagner" se revelar tudo o que sabe ao Ministério Público e à Polícia Federal. "É uma frase inócua. Minha vida política está consolidada em três eleições para deputado federal e duas vitórias em primeiro turno para governador da Bahia", reagiu o ministro.
Tesoureiro da campanha de Dilma, o deputado estadual Edinho Silva (PT) afirmou, em nota, que a revista tenta "criminalizar doações legais" e vincular o comitê financeiro da presidente às investigações efetuadas na Petrobrás. Silva garantiu que a campanha de Dilma "não recebeu doações da UTC efetuadas por intermédio do Partido dos Trabalhadores".
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