domingo, 5 de junho de 2016

Delações de Odebrecht e OAS alarmam políticos

• Empreiteiros devem relatar caixa dois para diversos partidos

Em avançadas negociações de colaboração premiada com a Lava-Jato, Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro deverão envolver Dilma, Aécio, 13 governadores e 36 senadores, segundo revista

Delações explosivas

• Para lideranças de PT, PSDB e PMDB, Lava-Jato provocará refundação do sistema político brasileiro

Jailton de Carvalho - - O Globo

O avanço das negociações para a delação dos empreiteiros Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro no âmbito da Lava-Jato alarma políticos de diversos partidos e agravará a crise política. Os donos da Odebrecht e da OAS devem revelar caixa dois para as campanhas presidenciais de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) em 2014, além de propina para até 13 governadores e 36 senadores, segundo a “Veja”. Reportagem de ontem do GLOBO mostrou que Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, relatou propina de R$ 70 milhões para o presidente do Senado, Renan Calheiros, o senador Romero Jucá e o ex-presidente José Sarney, todos do PMDB. Os acusados negam.

A revelação do explosivo conteúdo de uma série de delações premiadas já concluídas ou em andamento envolvendo personagens de diversos partidos levará o sistema político brasileiro a refundar suas bases, caso seja confirmado o teor das acusações. A avaliação é feita por lideranças das três legendas (PT, PSDB e PMDB) que se revezaram na Presidência da República nos últimos 21 anos. Políticos estão cada vez mais apreensivos com o teor das delações e temerosos de virarem alvos. Aém disso, a crise política tende a se aprofundar ainda mais nos próximos meses. Ontem, o GLOBO revelou que o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado relatou aos investigadores o pagamento de R$ 70 milhões a caciques do PMDB, entre eles o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o senador Romero Jucá (RR) e o ex-presidente da República José Sarney (AP).


A revista “Veja” deste fim de semana apontou que as negociações de delações premiadas de Marcelo Odebrecht (Odebrecht) e Léo Pinheiro (OAS) trazem acusações contra a presidente afastada, Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do PSDB, Aécio Neves, os ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, e ainda falariam de 13 governadores e 36 senadores.

Embora façam discurso de que as acusações contra os adversários são mais fortes do que as que envolvem seus aliados, a avaliação de líderes de PT, PSDB e PMDB é semelhante sobre a gravidade do momento político. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, por exemplo, acredita que somente com o desenrolar das investigações será possível saber “o que vai sobrar”. Ele afirma que será necessário construir uma nova forma de fazer política:

— Vamos ter de conviver com essa transição, até passar por todos os episódios da Lava-Jato, delações, declarações e depoimentos. E aí vai ver o que vai sobrar para a gente recomeçar outra forma de fazer política, porque, seguramente, o estilo antigo de fazer política foi embora.

Fim do financiamento empresarial
O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), afirma que as próprias práticas da sociedade serão alteradas:

— São indícios de revelações gravíssimas. Tem que aguardar com responsabilidade a oficialização desses dados, para confirmar a veracidade, e exigir uma rigorosa apuração. Essa Operação Lava-Jato segue independente de qualquer vontade. Ela vai seguir adiante e vai promover uma revisão de prática, procedimentos e condutas de importantes membros da sociedade brasileira.

O fim do financiamento empresarial das campanhas políticas, que já valerá nas eleições municipais deste ano, é, para o líder petista na Câmara, Afonso Florence (BA), um caminho. Ele reconhece que, com as sucessivas denúncias, há um choque de credibilidade sobre o sistema.

— É verdade que o sistema político derrete. Não se deve isentar quem tiver responsabilidade. Mas é preciso também ficar claro que, para condenação, tem que ter prova. Precisamos cumprir o rito democrático — afirma o petista.

Procuradores e advogados que estão na linha de frente das negociações afirmam, no entanto, que não há acordo firmado entre o Ministério Público e os ex-presidentes de Odebrecht e OAS. Segundo um investigador, as promessas dos executivos ainda não foram colocadas no papel. Ele sustenta ainda que os executivos precisam falar muito mais do que têm prometido, se quiserem, de fato, viabilizarem acordos de colaboração.

Caso sejam concretizadas, as possíveis delações de Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro podem atingir duramente a estrutura dos maiores partidos, PT, PSDB e PMDB, já desgastados desde o início das investigações da Lava-Jato. Segundo a “Veja”, nas negociações com vista a um acordo de delação, o ex-presidente da Odebrecht prometeu fazer revelações comprometedoras sobre governadores e senadores que teriam sido destinatários de doações legais e ilegais da empreiteira. Só nas eleições passadas, a Odebrecht teria desembolsado R$ 100 milhões para financiar candidatos de vários partidos.

Marcelo teria prometido também contar que pagou R$ 22,5 milhões para o marqueteiro João Santana no exterior por serviços prestados à campanha eleitoral de Dilma. A força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba já teria até rastreado pagamento de US$ 3 milhões da Odebrecht para Santana na Suíça. Santana coordenou o marketing das últimas três eleições presidenciais do PT, uma do expresidente Lula e duas de Dilma, e também do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.

Segundo a revista, parte das negociações entre a empreiteira e a campanha de Dilma teria sido coordenada por Giles Azevedo, ex-chefe de gabinete da presidente. Marcelo teria prometido ainda revelar que pagou R$ 50 mil para Douglas Franzoni, suposto laranja de Anderson Dornelles, ex-secretário particular de Dilma. O ex-presidente da Odebrecht também deverá falar sobre repasses para pagamento do cabeleireiro de Dilma Celso Kamura, conforme revelou O GLOBO sexta-feira.

A artilharia deve ser reforçada por Léo Pinheiro. Segundo a revista, o ex-presidente da OAS deverá acusar os ministros Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e Henrique Eduardo Alves (Turismo) como beneficiários de recursos. Também reafirmará acusações contra Renan, Jucá e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afastado do mandato e da presidência da Câmara. O executivo também deverá dizer que bancou reformas no sítio de Atibaia usado por Lula e no tríplex no Guarujá que, segundo ele, seria destinado ao ex-presidente. A novidade, neste caso, é que Pinheiro diria que fez a obra a pedido do próprio presidente, que sempre negou isso.

Em nota, Dilma afirma que as denúncias contra ela são mentirosas e que tomará medidas judiciais cabíveis. “A presidenta da República Dilma Rousseff reitera: jamais intercedeu pessoalmente junto a qualquer pessoa ou empresário buscando benefícios financeiros para si ou para qualquer pessoa”. Segundo o texto, “cabe aos acusadores provarem as várias denúncias, vazadas de maneira seletiva”.

Renan: relações “institucionais”
Giles Azevedo disse que “nunca tratou de campanha com o Marcelo Odebrecht”.

— Eu o atendi como chefe de gabinete nas agendas com a presidenta para falar de investimentos. Nunca tratei com ele de recursos para campanha eleitoral — disse ao GLOBO

O GLOBO ligou e mandou mensagens para Anderson Dornelles, mas ele não respondeu. Renan disse que não recebeu vantagens. “O senador reitera que jamais recebeu vantagens de quem quer que seja. As relações do senador jamais ultrapassaram os limites institucionais”, afirmou por meio de sua assessoria.

O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse, em nome dos senadores Jucá e Sarney, que a reportagem da revista “Veja” se baseia em “vazamento de um anexo” e que a delação propriamente dita ainda não existe.

— Estamos vivendo um momento em que a delação tem um foro de verdade e nós discordamos dessa premissa, até conhecer o tema da delação. Estão distribuindo o vazamento de um anexo, algo surreal. Não tem delação, mas uma pretensa delação — disse o advogado.

Henrique Eduardo Alves disse que todas as doações recebidas pela campanha foram de acordo com a lei e registradas nos tribunais eleitorais.

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