• O secretário executivo de Programas de Parceria de Investimentos, Moreira Franco, considerado o principal conselheiro político do presidente Michel Temer, disse ontem que a discussão agora da lei de abuso de autoridade é “uma agressão aos anseios das ruas
Jorge Bastos Moreno - O Globo
-BRASÍLIA- Tal declaração marca o distanciamento político que o Palácio do Planalto deseja manter em relação ao autor do projeto, o presidente afastado do Senado, Renan Calheiros, que entrou em confronto, sem perspectiva de recuo, com o Poder Judiciário, o que não interessa ao governo. Sobre as tentativas de fritura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o secretário revelou que vai cancelar o convite feito a Arminio Fraga para participar de um seminário do PMDB, a fim de não alimentar mais os boatos de que o economista do PSDB estaria sendo sondado para o cargo de Meirelles. Moreira, que falou ao GLOBO antes do afastamento de Renan, criticou também as permanentes declarações do ex-presidente Fernando Henrique contra Temer, afirmando que esses comentários desservem ao governo, ao país e ao próprio PSDB.
• É oportuno discutir e votar agora a lei de abuso de autoridade?
A lei vigente de abuso de autoridade é da época do marechal Castelo Branco. Veio logo depois do golpe. A sociedade brasileira mudou, o mundo mudou, e a tecnologia avançou. É necessário que esse debate se dê. Que se tenha um texto mais adequado aos dias de hoje. Mas acho que o ambiente está tenso e radicalizado. Conseguiu-se permitir que mudanças nesse campo sejam tidas como constrangimentos às apurações da Lava-Jato e de outras agressões à moral pública. Essa suspeita compromete qualquer mudança e torna o próprio debate uma agressão aos anseios das ruas.
• Está na hora de o governo mudar a política econômica, ou o país pode esperar a retomada do crescimento, prevista apenas para o segundo semestre do ano que vem?
Não se muda política econômica em consequência da vontade de alguém. São as condições sociais da população e a realidade econômica do país que determinam o caminho. O governo tem uma prioridade: buscar o equilíbrio fiscal. Perseverar e insistir nessa meta. Fazer o que o ministro Meirelles e sua equipe vêm fazendo com competência.
• Quem chamou Arminio Fraga para conversar: o senhor ou o presidente?
Nem o presidente nem eu. Falei com ele para convidá-lo para um seminário organizado pela Fundação Ulysses Guimarães comemorativo de um ano de lançamento da “Ponte para o Futuro”. Aliás, há tanto boato sobre movimentação na área econômica que vou propor transferir a realização do seminário.
• Quem, entre conselheiros e aliados, quer a saída de Henrique Meirelles?
O presidente não tem conselheiros nem aliados desajuizados para propor tal coisa. O voluntarismo que se viu no passado não se verá agora.
• Essa tênue aliança entre o PSDB e o PMDB chega até o final do governo Temer?
Sim. Devemos nos empenhar para consolidar e aprofundar essa aliança.
- Que aliado é esse, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que diz que Temer “é o que se tem”, que chama a sua “Ponte para o futuro” de “pinguela” e fica especulando que, se o presidente cair, haverá eleições diretas?
Esses comentários não ajudam o país nem o governo e tampouco o PSDB.
• Vira e mexe aparece alguém para dizer que o senhor cometeu irregularidades nas administrações de aeroportos com empreiteiras. O senhor já foi citado em delações?
Foi noticiado que dois delatores da Odebrecht afirmaram que eu teria solicitado apoio financeiro para o PMDB. É mentira. Jamais falei de política, partido ou recurso de campanha com eles. Como também nunca cuidei das finanças do partido. Eles terão que provar.
- Todo mundo acha, inclusive o próprio, que o senhor pressionou o presidente a demitir o ex-ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo). É verdade?
Não é verdade. Estava fora do país, a trabalho, durante todo o incidente. E só falei com o presidente no meu retorno. O ministro Geddel já tinha solicitado demissão.
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