terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O difícil vem agora - Roberto Segatori

- O Globo

O resultado do referendo constitucional tem duas questões de fundo. A primeira é a interpretação do voto. A segunda é aquilo que nos espera agora. Sobre a primeira questão, há importantes indicadores: votaram decididamente pelo “Não” os jovens (entre 18 e 34 anos) e os eleitores sulistas. Pelo “Sim”, se expressaram a maioria dos italianos no exterior. Estes dados nos permitem identificar as motivações reais do “Não”. O alto comparecimento às urnas, sem dúvidas, testemunhou que a base popular queria se fazer mais volumosa do que as elites. Mas, em questão de mérito, este foi sobretudo um voto de protesto e apenas alternativamente uma expressão de fidelidade à velha Constituição (talvez para alguém esse possa ter sido essencialmente um ponto de apoio contra o medo da mudança). 

O protesto tem o seu fundamento na falta de perspectivas de ocupação para os jovens, especialmente no Sul; nos novos desempregados de todo o país; naqueles que se sentiram defraudados pelos bancos falidos. Sobre esta tendência pouco falaram as explicações dos professores, que se limitaram a reforçar tecnicamente as razões de uns e de outros — ou o espírito de vingança da velha classe política deposta. O voto dos italianos no exterior mostrou como a reforma foi avaliada positivamente sob uma ótica externa.

No fim do jogo, Renzi certamente perdeu sua batalha sobre a reforma da Constituição. Mas, de outro ponto de vista, não saiu de todo enfraquecido. Na verdade, aqueles 40,9% do “Sim” são um pequeno tesouro quase todo seu (com exceção do pequeno apêndice dos centristas), enquanto 59,1% do “Não” se dividem entre ao menos seis forças: Liga Norte, Irmãos da Itália, Força Itália, Movimento Cinco Estrelas, Esquerda Italiana e os dissidentes do Partido Democrático — em que os Cinco Estrelas prevalecem claramente.

A segunda questão é muito mais complicada do que a primeira. O problema explodirá na primavera, quando muito provavelmente haverá eleições. E, breve, deverão ser aprovadas a lei de estabilidade e a nova lei eleitoral. Depois, serão necessárias pelo menos três reaproximações, se não houver cisões definitivas: entre os italianos do “Não” e os do “Sim” (pelo menos para tentar superar a penosa fase de insultos recíprocos); entre os eleitores e as forças de centro-esquerda; e dentro do Partido Democrático e do resto da esquerda. 

Finalmente, há o previsível aumento do Movimento 5 Estrelas. Formar um governo nestas condições será terrivelmente difícil. Porque o “Sim” deverá recorrer a uma “grande coalizão à italiana” (com compromissos muito desgastantes e um concebível aumento do descontentamento). Ou chegará ao poder o Movimento Cinco Estrelas, que já não está mostrando o seu melhor em Roma. Uma coisa é, de fato, tomar o partido do contra, outra coisa é decidir pontualmente o que se tem a fazer. Porque para dizer “Não” se pode gritar “escolham com a barriga e não com a cabeça”, como disse Grillo. Mas para governo é necessário usar a cabeça e não a barriga.

Como já aconteceu nos últimos anos, haverá dois fatores decisivos externos à política: os movimentos dos mercados financeiros internacionais e o compromisso com a recuperação do mundo empresarial italiano. Não queremos que esta mistura de fatores de altíssimo risco nos faça lamentar a oportunidade perdida no referendo de 4 de dezembro.

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Professor de Sociologia dos Fenômenos Políticos da Universidade de Perugia

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