Há o maior escândalo de corrupção da história brasileira, uma presidente petista que sofreu impeachment, Dilma Rousseff, o primeiro presidente a ser processado no exercício do cargo, Michel Temer (PMDB) e, agora, o primeiro ex-presidente a receber condenação em primeira instância, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Políticos de todos os partidos, e não poucos, estão enrascados na Justiça, alguns estão presos, como o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o ex-governador Sergio Cabral (PMDB-RJ), mas todas as ações da Justiça e da Operação Lava-Jato parecem ter existido até hoje apenas para exterminar com o "projeto político" de Lula.
A condenação a 9 anos e meio de prisão, em primeira instância - o Tribunal da Quarta Região pode absolvê-lo - marca mais um passo na trilha da ruína moral do PT, assim como a maior recessão da história marcou o estrondoso fracasso de um programa econômico autenticamente petista - que Lula teve a sabedoria de não seguir em seu primeiro mandato e com o qual começou a flertar no segundo.
Já mal transcorrida metade do primeiro mandato de Lula, ele e o PT se viram às voltas com o escândalo do mensalão, que acabou com a condenação do chefe da Casa Civil, José Dirceu e de vários políticos do PP. A face pública do projeto político de Lula foi colocar a distribuição de renda e programas sociais como prioridade absoluta de sua administração, pelo qual recebeu merecidos aplausos. A face oculta era comprar em massa o apoio de políticos mercenários no Congresso.
Com o mensalão ficou claro que a solda política de apoio ao governo era o dinheiro, cuja proveniência apareceu de forma difusa, nas bordas do poder. Com a Operação Lava-Jato, a origem, antes apenas discernida, veio à luz. De um lado, o saque generalizado de empresas estatais - com a Petrobras em primeiro plano - e fraudes em concorrências públicas, em parceria com as maiores construtoras do país, das quais centenas de executivos detalharam como se roubava, porque se roubava e quem recebia parcelas do roubo - PT, PMDB, PSDB e demais partidos. Outra fonte era a venda de legislação no varejo do Congresso para empresas.
Lula foi presidente durante oito anos nos quais esse esquema, que já existia, se solidificou e se "institucionalizou". O PT não inventou a corrupção, mas parece claro que se serviu dela para tentar manter-se no poder pelo maior tempo possível. Todos os chefes da Casa Civil de governos petistas, com exceção da própria Dilma, foram acusados por corrução. Dirceu, preso até há pouco, pode ser condenado em segunda instância e Antonio Palocci está preso. Não existe um tesoureiro do PT desde então que não tivesse problemas com a polícia.
Lula elegeu as maiores construtoras como beneficiárias de seu modelo, abastecido com recursos públicos e propinas. Dilma herdou o esquema, já prestes a ruir, e recebeu em seu governo o partido mais longevo em negócios escusos, o PMDB, com Michel Temer sagrando a parceria. Hoje quase todos seus caciques do PMDB têm processos no STF, assim como o prontuário policial de seus líderes regionais, já extenso, continua crescendo.
O ex-presidente tinha uma relação promíscua com os donos das construtoras durante e após seus mandatos. Não tomou nenhuma providência moralizadora depois do mensalão. Em momento algum, já sob investigação da Lava-Jato, Lula disse ter ciência de que algo estranho ocorria a seu redor. Sob o monte de acusações que lhe eram feitas, ele, habitualmente falastrão, disse pouco e quase nada explicou. Mimos suspeitos de construtoras que ganharam bilhões durante seu governo - como o tríplex do Guarujá e obras no sítio de Atibaia - são, a rigor, inexplicáveis pelo discurso de Lula: nenhuma das propriedades é sua.
Diante da magnitude dos escândalos desvendados, do envolvimento de vários partidos no megaesquema de corrupção, o argumento da perseguição brandido com exclusividade por Lula soa como álibi para nada explicar - tudo se resume a uma vingança política. A cúpula do PT jamais admitiu que um de seus membros tenha roubado para si ou para a "causa". A Justiça dará a palavra final no caso.
Politicamente, Lula fez aliança com os setores mais corruptos e retrógrados do país. Na oposição, criticou os picaretas do Congresso, que só queriam poder e dinheiro. Aliou-se a eles, exerceu com gosto, e ainda quer exercer, o primeiro, mas é o segundo que pode pôr fim a sua carreira.
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