- O Globo
Há esperança das reformas, mas há também ameaça das milícias
‘Agora é cinza, tudo acabado e nada mais”. Ao contrário do que diz esse belo samba imortalizado por Mário Reis, uma tradição não escrita reza que no Brasil o ano começa no primeiro dia depois do carnaval, isto é, hoje. Sendo assim, vamos ter pela frente momentos decisivos. Além das heranças malditas deixadas por 2019, haverá os problemas que nos reserva o próximo calendário.
Embora uma das piores ameaças, o coronavírus, talvez não seja tão grave quanto se apresentou ao surgir, alguns efeitos como o impacto na economia mundial e o medo permanecem. Nunca se sabe, por exemplo, se a erupção dos casos fatais de pneumonia que já nos assustam não têm mesmo a ver com a nova peste.
No campo da economia e da política, há a esperança das reformas, mas há também a ameaça das milícias, que já dominam grande parte do município do Rio. As eleições de prefeito, vice e vereadores oferecem a oportunidade de mudanças, mas também o risco de continuísmo.
No Ceará, às vésperas do carnaval, a tensão entre o governo e os PMs amotinados levou Bolsonaro a enviar tropas. O Congresso e o STF temiam que a crise na segurança se estendesse para outros estados.
O período pré-carnavalesco foi todo de alvoroço político, a começar pela indignação geral contra os sórdidos insultos do presidente à jornalista Patrícia Campos Mello, respondida por ele dando banana e xingando.
O mais surpreendente, porém, foi o comportamento do general Augusto Heleno, que era tido por alguns como poder moderador, capaz de conter os destemperos e surtos de insensatez do presidente. Inspirado pelo seu ídolo capitão, o general reagiu acusando o Congresso de chantagem e terminando a frase com um inacreditável “foda-se”.
Mas a declaração mais comprometedora foi a do vereador Ítalo Ciba (Avante), sargento da PM, revelando que Flávio Bolsonaro, “mais de uma vez”, o visitou a ele e seu companheiro de cela na prisão, justamente o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, morto em operação da PM na Bahia. Segundo Ciba, Adriano frequentava o gabinete do 01, a convite de Fabrício Queiroz, ex-chefe de segurança de Flávio.
O ano promete.
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